quinta-feira, 18 de junho de 2009

"Porra, Breno!"

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Now playing on iTunes: The Beatles - Why Don't We Do It In The Road?
via FoxyTunes


Vocês se lembram do dia em que perceberam que seus pais, defensores das causas nobres, conceitos e valores, que eram fortes a ponto de bater em fantasmas e muito mais inteligentes que qualquer cientista, na verdade eram meros seres humanos?

Eu lembro exatamente de quando aconteceu isso comigo.

Com relação à minha mãe, foi um episódio um pouco menos relevante. Já com meu pai, foi num dia que estávamos na casa de praia de uma tia minha. Jogávamos voleibol e estávamos eu e meu pai no mesmo time.

Eu devia ter uns onze anos. À época, eu fazia parte da equipe do colégio. Destacava-me entre os meus parentes, a ponto de tentar uma firula após da outra durante a partida. Para cada sucesso que lograva em realizar belas jogadas, errava um bocado de tantas outras. Não estava nos meus melhores dias.

E meu pai apercebeu-se do fato de que eu optara por destoar do feijão-com-arroz do restante do time. Pior ainda: também percebeu a quantidade de pontos que perdíamos com isso. Estávamos vencendo, mas a vantagem ficava cada vez menor.

E, numa dessas jogadas em que deixei a bola escapar, ele olhou p’ra mim e disse:

“Porra, Breno! Se você não quer jogar sério, pode sair!”

Aquilo desceu pela minha goela como vidro picado embebido em vinagre. Como assim, o homem que me pôs no mundo, minha égide e gládio, que deveria me proteger... Tratar-me assim? Fiquei transtornado. E assim permaneci até o fim do jogo. Ganhamos, inclusive, mas isso não trouxe nenhum alento.

Os anos passaram e eu ainda sentia o gosto de vinagre na garganta. Até o dia em que me veio o insight: naquele momento, ele não era o patriarca provedor que pagava o meu colégio. Era, sim, um cara puto com um membro da equipe que estava fazendo merda e pondo todo o time a perder.

O engraçado é que as coisas ficaram muito mais compreensíveis assim que a ficha caiu. Consegui perceber as cagadas que meus pais faziam e mesmo assim manter minha serenidade. Até mesmo achar alguns desses deslizes bonitos. A queda da ficha tornou nossa relação bem mais humana.

Mas que, no dia, foi barra... ah, isso, foi.


Carpe Noctem. Amo vocês.

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