terça-feira, 30 de junho de 2009

Dezesseis.

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Now playing on iTunes: Paul McCartney - That Was Me
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Tenho o hábito de fazer registros escritos há cerca de oito anos, no que eu batizei de Cadernos-pretos (em homenagem à cor da capa do primeiro deles; os outros não necessariamente seguiram esse padrão). Como era um espaço privativo meu, dava-me a liberdade de não conferir linha alguma ao que escrevia: os textos pendulavam entre letras de canções, poemas (alguns, inclusive, se provaram que NÃO eram poemas. Mas isso é outra conversa), desabafos, declarações de amor velado, opiniões, declarações de amor veladas... Algo tão plural quanto nossos dias.

Dia desses, resgatei esses Cadernos-pretos para lê-los e ver se algo deles ainda tinha algo que me agradasse para ser publicado aqui. E foi uma leitura deliciosa, por duas razões principais.

A primeira: é impressionante o volume de coisas que ainda achei interessantes de ler e/ou publicar. O volume de material aproveitado, na íntegra ou com pequenas modificações, ainda tinha alguma força, algo a dizer (pena que o Caderno do qual eu tinha mais orgulho e lembranças boas tenha sido roubado junto com uma mochila minha, num episódio esquecível).

E a segunda é: esse negócio de adolescer existe mesmo!

O hiperbólico. O imediatismo. O precipitado. Já houve uma época de ter valores extremos. Já tive amores p’ra vida toda e opiniões imutáveis, sobre o quer que fosse. De me orgulhar em já saber o que queria ter/ser. De ter sonhos do tamanho do mundo todo.

E não ouso dizer que era uma época mais simples. Nunca há época simples. Esquecer um livro no colégio quando se tem nove anos pode ser um problema tão grande quanto manter um namoro aos dezenove, o nascimento do filho aos vinte e nove e o livro que esse filho esqueceu no colégio aos trinta e nove. Somos uma serpente que rompe a casca do ovo até se deparar com outra casca ainda maior para ser quebrada e que nos exigirá não a mesma força, mas o mesmo esforço.

Um professor meu certa vez disse que, quando ficamos velhos, carregamos conosco os cadáveres de um bebê, uma criança, um jovem e um adulto. Permita-me transcorrer sete anos desde que ouvi isso para discordar em parte dele e retrucar: viver assim é, sim, uma das muitas opções.

Meus próprios Cadernos-pretos me revelaram que o adolescente em mim ainda dá muito pitaco no que faço e sinto. E que ainda o acho lindo, em ingenuidade, rebeldia e hipérboles.


Carpe Noctem. Amo vocês.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ensaios sobre as Paixões (12)

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Now playing on iTunes: The Beatles - Think For Yourself
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Ato Final: Pathos-Paixão



Eis a ode a ti, que
És ruptura.

Alienada, alienante.
Querubim e súcubo.
Tens tudo
de célere e perene.

Incidência
De evocar lágrima
(e independe de jaez.)

És um ciclo
que mata e morre
em si.

Célere e funesta,
phármakon ao avesso.

Confere zênite ao nadir.
Norteia a bússola ao sudoeste.

Redentora,
Torna mártir
qualquer tolo.

Faz perder,
nos amantes,
o fôlego.

És da ordem
do instinto.
(És carne.)

Destilada
em veneno
do corpo
de outrem,

Injeta vida
fingindo matar.


Carpe Noctem. Amo vocês.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Vácuo.

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Now playing on Windows Media Player: Metallica - One
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Por vezes,
sou ar:
fluo, vago, caos
a estar em toda parte.

Por outras,
sou treva.
lúgubre, tétrica, cíclica
onde a luz não me permite faltar.

Não há solidez,
ordem
ou medida.

Ora distorço,
Ora escondo -
Mas sempre omito.


Carpe Noctem. Amo vocês.

Who's Sad?

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Now playing on Windows Media Player: Titãs - Deixa eu Sangrar
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Michael Joseph Jackson
(29.08.1958 - 25.06.2009)


[...]

quarta-feira, 24 de junho de 2009

E.E.C.

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Now playing on iTunes: Blur - End Of A Century
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dor
dor¹
sf (lat dolore) 1 Med Sensação desagradável ou penosa, causada por um estado anômalo do organismo ou parte dele; sofrimento físico. 2 Sofrimento moral. 3 Dó; pena, compaixão. 4 Remorso: A dor dos pecados. sf pl pop Os sofrimentos do parto. D. cansada: dor surda, nem forte nem aguda. D. ciática: nevralgia no grande nervo ciático, localizada geralmente na parte posterior dos quadris e às vezes em toda a perna. D. de alma: grande sentimento pelas desgraças próprias ou alheias. D. de barriga: enteralgia. D. de cadeiras: dor lombar ou sacrolombar. D.-de-canela: dor-de-cotovelo. D.-de-corno: dor-de-cotovelo. D.-de-cotovelo: despeito amoroso; ciúme. D.-d'olhos, pop: nome genérico de várias afecções oculares: conjuntivite, blefarite, tracoma etc. D. fulgurante: dor intensa e rápida. D. vagas: nevralgia errática. Dar dor de cabeça: dar aborrecimento. Tomar as dores por alguém: ficar uma pessoa sentida com ofensa feita a outra, assumindo-lhe a defesa; doer-se por.

(Fonte: Moderno Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa)

Sendo assim, a dor é a reação a algo com o qual o organismo (assumindo como "organismo" todo o indivíduo - o psíquico, fisiológico e social) não concorda que conviva com ele. Ou seja: é você dizendo p'ra você mesmo que manter o que se mantia é comprometedor à sua integridade.

E várias são as maneiras que um organismo tem de expressar sua dor. Às vezes ele é honesto conosco e faz um dano à mão doer exatamente na mão danificada. Mas, quando ele é permitido, torna-se matreiro: faz uma aflição pulmonar doer no encéfalo, ou uma cerebral migrar para a mão. Noutras vezes, a dor consegue ser mais poética e fazer a alma doer no coração. Ou a mente irradiar para as pernas.

Muitas vezes uma dor se esconde em seus sintomas e pensamos seriamente que o mais importante é combatê-los - Afinal de contas é a maneira mais célere. É prático. Em pleno Século XXI do Ocidente, buscamos soluções imediatas para as aflições - sejam elas empíricas ou farmacológicas, legais ou ilegais.

E assim, vamos vivendo. Curando as dores da morte com benzodiazepínicos, brigas entre amigas com idas ao shopping e a perda da mulher amada com gin.

E quando um problema de mesma ordem surge, lá estamos nós. Vulneráveis. De novo.

"Quem nunca vivenciou o amor não consegue esperar amor. Quem sempre teve amor desconhece o abandono.", disse minha Professora de Psicologia Hospitalar quando à época da Graduação. Pode até parecer uma afirmação seca, mas todos os sentimentos que expressamos são aprendidos. Educados. Faz-se mister elaborar um repertório emocional para saber como externar o sentido para o outro na relação. E não há como aprender a reagir a algo que nunca se sentiu. Qualquer coisa que transceda ou finja isso é psicose, stricto sensu.

Não há como esquecer dores guardadas e garantir que elas nunca mais voltem. Acreditem: o ser humano administra suas dores tão mal que, com a técnica correta, ele pode discutir com uma cadeira vazia só imaginando que a mãe está lá. Ou seja: conseguimos gastar muita energia com muito arrodeio. Só p'ra não nos havermos com o problema real.

Sentir a dor e entender a sua fonte é a melhor defesa para não senti-la desnecessariamente de novo. Manter a gestalt aberta é irresponsabilizar-se por si próprio.


Carpe Noctem. Amo vocês.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Soneto do Soneto.

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Now playing on iTunes: The Fireman - Nothing Too Much Just Out Of Sight
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Temeroso em tentar
par quarteto, par terceto,
é aqui que eu me encontro -
a tentativa de um soneto.

A métrica, a rima
me são terrenos pantanosos
ou desertos caudalosos:
nunca me agrada o clima.

Empecilho
que não faz-me
reclinar

E, sem importar,
ou mesmo fazer,
ainda encilho.


Carpe Noctem. Amo vocês.

Fênix.

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Now playing on iTunes: Paul McCartney - Fabulous
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Eu tenho 24 anos, e desde hoje eu e meu pai nunca perdemos o hábito de nos cumprimentarmos com um beijo. Nas chegadas, saídas, caronas ou coisa que o valha. Embora eu perceba que diante de estranhos, desde que entrei no processo de adultização (ainda mais quando passamos dois anos trabalhando no mesmo prédio), ele tenha passado por um certo retraimento.

Acho até isso normal, no sentido em que talvez ele pense que eu esteja em processo de "construção-de-imagem" e que, quanto mais desassociarmos nossas pessoas em determinados contextos, maior é a chance de que reconheçam meus méritos como meus e pronto. Louvável.

Voltando ao assunto, certa feita eu estava a caminho de casa. Quando estava de frente ao portão, meu pai estava a conversar com cara da lavanderia que nós contratávamos, que estava lá para pegar a roupa suja e receber o pagamento periódico.

Sem fazer muita cerimônia, desejei ao cara uma boa-noite, cheguei ao meu pai e dei os costumeiros abraço e beijo. Percebi que ele havia ficado todo sem-graça em fazer isso de frente ao homenzarrão que ali estava.

Quando fui em direção à porta, ouço o homem falar: "É muito bom, né? Chegar em casa, cansado de tanto trabalhar e vem o filhão dar um beijo na gente..."

Nem virei p'ra ver a cena, mas abri eum enorme sorriso. Pelo que conheço dele, deve ter ficado um outro tipo de sem-graça...

O que isso quer dizer? Nada. Apenas que eu o amo.

E que achei a história bonitinha.


Carpe Noctem. Amo você.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Morfeu.

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Now playing on iTunes: Paul McCartney - The Lovely Linda
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De acordo com Freud, não há nenhuma novidade psíquica nos sonhos. São manifestações/latências de caracteres pessoais, por assim dizer. Visões das relações/conflitos do consciente/inconsciente, resultantes de vivências do sujeito, depositadas nas estruturas da alma/mente (O excesso das barras é premeditado. Falar sobre Psicanálise p'ra mim sempre é pisar em ovos).

Sem contrariar os psicanalistas de plantão... mas não é formidável como se é possível aprender ou criar através do que sonhamos?

Os senhores certamente já devem ter se deparado com uma situação dessas. Acordar com algo completamente novo, vindo completamente de material onírico?

No meu caso, já saíram poemas, letras de canções, marchinhas de Carnaval (?), excertos de textos... Paul McCartney trouxe Yesterday, a canção mais reproduzida de todos os tempo, de um sonho. Chico Buarque cria cidades, jogadas de futebol e já compôs canções (que ele inclusive não atribui à própria lavra... já creditou ao seu falecido bisavô e até mesmo a Zeca Pagodinho!).

Talvez isso nem mesmo contrarie qualquer escola de pensamento do inconsciente. Alguém já deve ter refletido ou dissertado sobre o fato. O que não torna tal fenômeno menos interessante.

Também não estou falando que isso tudo surja do nada. Até mesmo porque, puxando a sardinha p'ro lado de Lacan, todo o conteúdo manifesto possui um lugar subjetivo. Nem que seja um bicho com cinco pernas e cabeça cor-de-rosa. A linguagem consegue abarcar a demanda do "necessito, por mais obscuro que seja, definir o que vi".

E quanto aos senhores? Já tiveram essa oportunidade de criar através de um sonho? Já se frustraram ao acordar e não lembrar de nada?

A dica que dou é fazerem o que sempre faço: dormir com um bloquinho e caneta sempre perto da cama.


Carpe Noctem. Amo vocês.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

"Porra, Breno!"

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Now playing on iTunes: The Beatles - Why Don't We Do It In The Road?
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Vocês se lembram do dia em que perceberam que seus pais, defensores das causas nobres, conceitos e valores, que eram fortes a ponto de bater em fantasmas e muito mais inteligentes que qualquer cientista, na verdade eram meros seres humanos?

Eu lembro exatamente de quando aconteceu isso comigo.

Com relação à minha mãe, foi um episódio um pouco menos relevante. Já com meu pai, foi num dia que estávamos na casa de praia de uma tia minha. Jogávamos voleibol e estávamos eu e meu pai no mesmo time.

Eu devia ter uns onze anos. À época, eu fazia parte da equipe do colégio. Destacava-me entre os meus parentes, a ponto de tentar uma firula após da outra durante a partida. Para cada sucesso que lograva em realizar belas jogadas, errava um bocado de tantas outras. Não estava nos meus melhores dias.

E meu pai apercebeu-se do fato de que eu optara por destoar do feijão-com-arroz do restante do time. Pior ainda: também percebeu a quantidade de pontos que perdíamos com isso. Estávamos vencendo, mas a vantagem ficava cada vez menor.

E, numa dessas jogadas em que deixei a bola escapar, ele olhou p’ra mim e disse:

“Porra, Breno! Se você não quer jogar sério, pode sair!”

Aquilo desceu pela minha goela como vidro picado embebido em vinagre. Como assim, o homem que me pôs no mundo, minha égide e gládio, que deveria me proteger... Tratar-me assim? Fiquei transtornado. E assim permaneci até o fim do jogo. Ganhamos, inclusive, mas isso não trouxe nenhum alento.

Os anos passaram e eu ainda sentia o gosto de vinagre na garganta. Até o dia em que me veio o insight: naquele momento, ele não era o patriarca provedor que pagava o meu colégio. Era, sim, um cara puto com um membro da equipe que estava fazendo merda e pondo todo o time a perder.

O engraçado é que as coisas ficaram muito mais compreensíveis assim que a ficha caiu. Consegui perceber as cagadas que meus pais faziam e mesmo assim manter minha serenidade. Até mesmo achar alguns desses deslizes bonitos. A queda da ficha tornou nossa relação bem mais humana.

Mas que, no dia, foi barra... ah, isso, foi.


Carpe Noctem. Amo vocês.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

"Era a Mônica, era a Mônica..."

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Now playing on iTunes: Radiohead - Planet Telex
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Saiu no site do Estado de São Paulo:

A Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara aprovou ontem proposta que proíbe qualquer tipo de publicidade dirigida a menores de 12 anos e restringe aquelas destinadas ao público adolescente, entre 12 e 18 anos. A proposta segue agora para a Comissão de Constituição e Justiça e, se aprovada, ainda precisa passar por avaliação do Senado, segundo a Agência Câmara.

O projeto, do deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), proíbe a veiculação de comunicação que faça uso de linguagem infantil, efeitos especiais e excesso de cores, trilhas sonoras de músicas infantis ou cantadas por vozes de criança, pessoas ou celebridades com apelo entre o público infantil, personagens ou apresentadores infantis, animação, bonecos, promoção com distribuição de prêmios ou de brindes colecionáveis e promoção com competições ou jogos com apelo ao público infantil.

O texto aprovado também proíbe qualquer tipo de publicidade durante, 15 minutos antes ou depois, de programação infantil ou programa que tenha audiência em sua maioria constituída por criança. Também fica vetada a participação de crianças nas ações publicitárias, exceto em campanhas de utilidade pública.

O projeto de lei restringe também a veiculação de merchandising durante programa de entretenimento dirigido ao adolescente e proíbe a indução, "mesmo implicitamente, de sentimento de inferioridade no adolescente, caso este não consuma determinado produto ou serviço" e o uso das palavras 'somente' e "apenas" junto aos preços dos produtos e serviços, entre outros itens. O texto prevê multas entre 1 mil e 3 milhões de Ufirs em caso de infração.

O objetivo imediato dessa lei é claro. Sendo a publicidade vista como a mãe de todos os males do consumismo desenfreado, a lei assume a importância de orientar as crianças, educá-las e conduzir seus passos para longe de consequências como obesidade, compulsões etc.

Peraí! Para tudo. Orientar crianças, educar, conduzir seus passos...

E onde entram os PAIS nessa história?

Não seriam eles os responsáveis primevos por essa iniciativa?

Se uma criança demonstra uma postura moderada ou compulsiva, vá lá que haja uma intervenção indireta do Estado. Afinal de contas, todos nós também somos produtos do meio. Mas será que isso é forte a ponto de termos um Estado regulador do que atrai nossas crianças?

Como profissional da área de propaganda, entendo como meus argumentos podem soar suspeitos. Talvez eles realmente sejam, já que boa parte do meu trabalho consiste em escolher imagens, cores e mensagens que causem o máximo de impacto. Muitas vezes, por determinação de clientes, os textos legais quase que negam tudo o que fora dito no resto das peças criadas.

Mas também não posso negar minha formação em Psicologia, o fato de ter sido criança e ter um irmão de 7 anos de idade para perceber que essa medida soa excessivamente reguladora. É um atestado de redução da relevância de figuras educadoras.

Quanto à educação cromática? Uma embalagem de brinquedo teria que esconder o brinquedo. Um caderno infantil deveria proibir cores vivas. Temo pela educação de espectro visual dessa nova geração.



Tomo alguns argumentos utilizados pelo gênio Maurício de Sousa em seu perfil do twitter para discutir algumas consequências não idealizadas a essa lei, caso ela seja aprovada em todas as instâncias:

O primeiro tema que ele elenca: filhos mal-educados são frutos de pais mal-educados. Não há como culpar a publicidade, produto-meio, pela deficiência de juízo crítico dos consumidores-fim: pais que não sabem dizer e crianças que não sabem ouvir um "não". Além de um atestado de inconspicuidade, essa lei também seria um atestado de burrice ao cidadão brasileiro. E, embora possa não parecer, ainda existem pessoas aqui que não merecem ser rotuladas de oligofrênicas em nome de toda a nação.

Segundo argumento: como eu já falei anteriormente, o Estado não pode avocar a orientação de nossos filhos. A figura parental deve absorver a lei a ponto de trazer à sua prole um conhecimento a ser introjetado. Que o não-impulso de matar alguém seja pela educação da valorização da vida, e não pela existência de uma Lei Federal.

Terceiro ponto: a sanção de uma lei arbitrária dá margem à sanção da próxima lei arbitrária. Como o próprio Maurício disse, "vai chegar o dia em que vão proibir o coelho na mão da Mônica." Ele também fala que a palavra "proibir" o assusta, principalmente desde a época da Ditadura.

Quarto ponto importantíssimo: com a eliminação total desses produtos produzidos no Brasil, escancararemos nossas portas para outro problema muitas vezes silencioso: o contrabando. Os artistas, publicitários e comerciantes patrícios obedecerão à lei, enquanto, por debaixo dos panos, produtos de outras culturas e/ou piratas, de "qualidade duvidosa (ou perigosa)", segundo Maurício, chegariam ao país. Se não conseguimos controlar a entrada de drogas e armas no país, o que fariam com brinquedos?



Não nego a profundidade da referida discussão, nem defendo que ela não haja. O que estou falando, reitero, é que não estamos tomando a proporção e nem estamos participando, como população, de tudo que o assunto exige. Não defendo esse tipo atropelante de restrição. O poder parece correr em paralelo ao clamor popular.

Nossas crianças não podem ser tratadas como imbecis, e, sim, educá-las utilizando suas principais qualidades. Questionaram Maurício sobre o poder da publicidade haja visto que as crianças decoram jingles e comerciais de TV com mais propriedade do que a tabuada. Maurício retruca: “Porque não lhes ensinaram tabuada. É triste. mas saberem de cor os anúncios evidencia inteligência, à espera da orientação” Não seria esse um momento de se rever como se ensina a tabuada?

Pode ser árdua a tarefa de um pai de impor limites a alguém que ele ama tanto. Mas é importantíssimo ensinar ao infante que não ter tudo que se deseja é uma condição sine qua non do estado de ser humano e ter ambições.

Através da truculência, não são apenas as crianças que sofrem restrições com isso. Os adultos que elas serão, também. Aqueles que deveríamos educar para mudar a situação como está teriam, no mínimo, o mesmo triste destino que enfrentamos hoje.

O de sermos adultos, brasileiros, integrantes do PEA, cidadãos propulsores da economia de um país continental. E, mesmo assim, imbuídos da sensação de impotência.


Carpe Noctem. Amo vocês.


P.S: Gostaria de agradecer mais uma vez ao mestre pelo insight surgido. Obrigado, Maurício, por ter feito (pelo menos até então) nossas vidas muito mais coloridas e bem-humoradas.

terça-feira, 16 de junho de 2009

... E um Frágil Ninho (2).

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Now playing on iTunes: Jamiroquai - Revolution 1993
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“Insustentável.”

Vocês já ouviram alguém proferir esse polissílabo antes?

Eu já tive a oportunidade. E dói p’ra caralho.

Dói porque isso não quer dizer “eu não te amo mais”, nem quer dizer “esqueça”. Quer dizer, simplesmente “Eu não posso mais ficar com você. Mas não posso mais ficar sem você”. E como nós obedecemos a coisas como física e lógica básicas, é impossível estar os dois ao mesmo tempo. É preciso que, no mínimo, a vida escolha pelos dois.

A vontade de que desçam as lágrimas é imediata. Porque você sabe que aquelas palavras dizem exatamente o que elas queriam dizer. E você sabe o quanto ela lutou para que não fosse preciso dizê-las. E dói em dobro. Pela dor e pela confluência.

E como aquele amor é insustentável, também é insustentável odiá-la. O lúgubre espectro que percorre do vermelho ao violeta sem chegar ao verde. A inércia advinda do fato de que nada feito ao momento imediato pode render bons frutos.

O próximo passo é o do indago. O que teria acontecido se eu fosse corajoso a ponto de refutar tudo o que foi dito? Que eu ficaria ali, sim, à revelia do que ela achasse que seria melhor? Se, pela primeira vez, eu tivesse que fazê-la obedecer dizendo que NÃO era dessa maneira que eu procederia?

E aí, um misto de aceitação e fatalismo toma a cena. Pois não há esforço possível para saber qual seriam os outros braços da vereda. Não há quem possa afirmar que outra decisão que eu tomasse no passado me fizesse desejar justamente o que vivo hoje.

Só resta a alternativa dos que não têm alternativa. Concordar que a situação é tal como é:

Insustentável.

E é insustentável todo esforço empreendido na pugna de não querê-la.


Carpe Noctem. Amo vocês.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sabotando Confúcio.

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Now playing on iTunes: The Beatles - Dig A Pony
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O que desejei ontem? Querer ser alguém a se abandonar. Sem morte. Sem motivo nenhum. Nenhum sacrifício ou nenhuma honrada nobilidade. Simplesmente desistir de mim em prol de algo.

O que desejo hoje? Ter alguma vontade. Alar grandes conquistas. Singrar enormes distâncias. Derrubar enormes barreiras. Tudo em nome de... algo que desconheço o que seja.

Quando é que fui mais feliz?


Carpe Noctem. Amo vocês.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Not that Valentine.

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Now playing on iTunes: Red Hot Chilli Peppers - His Velvet Glove
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Em 1949 o publicitário João Dória trouxe uma ideia para avivar a importância de uma data que se perdia na priorização do calendário brasileiro: o dia 14 de fevereiro, Dia de São Valentim, o Dia Internacional do Amor. Como essa data muitas vezes coincidia com o Carnaval, todos os ritos em nome desse belo sentimento perdiam sua conspicuidade. Comercial, inclusive.

Com vistas de reparar tal equívoco, essa data foi transferida para o dia 12 de junho, um período de vendas morno e à véspera do Dia de Santo Antônio, patrono casamenteiro. Ao passar do tempo, a data saiu do Estado de São Paulo e ganhou todo o Brasil, sendo chamado de Dia dos Namorados.

Podemos dizer a data vingou. Desde então, todos os casais apaixonados participam de uma maratona que se inicia nos shoppings, com a escolha de um regalo de valor proporcional ao apreço aferido ao relacionamento, passando pelos restaurantes lotados e a tradicional fila de carros em frente às entradas de todos os motéis do país.

E o mais interessante é que a coisa ganhou uma proporção que acho difícil ter sido pensada por Dória. Porque é inegável que os Enamorados de 12 de junho têm que dividir essa data com outras facções que surgiram para referendar suas próprias opiniões sobre o amor.

Uma facção que surgiu foi a dos Solteiros Amotinados. Criaturas a refutar os coraçõezinhos pipocantes que enchem a cidade e tentam manter uma vantagem através dos números, arrolando outros solteiros para sabotar os climas de romance. De preferência, indo aos mesmos restaurantes românticos em que os casais apaixonados estão, à guisa de afronta.

A facção mais óbvia talvez seja a dos Solteiros Deprimidos. Pessoas que, assim que possível, se trancarão em seus quartos com alguma substância alucinógena ou hiperglicêmica para lamentar a data, ver filmes românticos, ouvir músicas tristes ou coisa que o valha – Tudo isso para resgatar aquela tristeza por estar sozinho que estava escondida o ano inteiro. Alguns chegam ao extremo de comprar um presente ou mandar flores para si mesmos. Para elevar a auto-estima, ainda exigem que sejam entregues na escola, faculdade ou local de trabalho.

Alguns não se rendem à situação que se encontram e tentam se imbuir do zeitgeist para reverter o quadro. São os Solteiros Insatisfeitos, que irão à caça de outros solteiros, sonhando em contar para os netos que ele conheceu a avó deles em pleno 12 de junho.

Também figura em nossa lista os Solteiros Convictos. Gente que está indisponível para relacionamentos, mesmo não estando em um. Estão nas vacas gordas, repleto de paixões puntuais e que não quer perder isso por nada. Alguns até ficam pianinho dentro de casa esse dia p’ra que uma dessas paixões não ponha a carroça à frente dos bois e confunda a relação.

Até mesmo os casais unidos à época também criaram suas dissidências. Temos, por exemplo, a facção dos Namorados Insurgentes. Críticos e cientes da comercialização da data, recusam-se a alimentar uma indústria capitalista que visa apenas o lucro em detrimento da valorização do ser humano. Tentam tratar o dia 12 como uma data qualquer e vão ver só um cineminha, enquanto veem todos os outros casais do planeta sorridentes pelas vitrines, e voltam para casa ver novela.

Há também os Namorados Temporários, casais que forjam um laço que dura apenas 24 horas (às vezes bem menos do que isso) para afirmarem ao mundo que estão muito bem, obrigado, trocar alguns beijinhos em público (e, quem sabe, até algo mais em particular) e voltar às vidas de solteiros ao dia 13.

Patrício Jr., do Plog, também lembrou daqueles que são criticados, mas defendem à sua maneira uma democratização do amor. São os Namorados Múltiplos. Aqueles que têm que correr de uma casa a outra, de um restaurante a outro, de um motel a outro, inúmeras vezes numa mesma noite, para satisfazer todas as cônjuges.

E não poderíamos deixar de citar o limbo em que se encontra o clã dos Ex-namorados Recentes, casais que, por pouco, também comemorariam essa data (alguns precavidos já teriam, inclusive, comprado o presente e reservado mesas/quartos para celebrar a ocasião) e que enfrentam uma miríade de sentimentos, todos eles conflitantes com a data em questão. Ou estão de luto, ou procuram se conformar com algo que não volta mais.

A questão é: seja lembrando ou esquecendo, abraçando ou negando, sabotando ou valorizando... exatos 60 anos depois, ainda não há como ficar imune à data. Até a turma do "foda-se" tem que se haver com o inferno de shoppings, restaurantes e motéis lotados.

Onde quer que esteja, Dória deve estar sorrindo feito um abestalhado. Que outro publicitário pode dizer que sua campanha gerou tanto buzz?


Um feliz dia 12 para todas as facções.


Carpe Noctem. AMO VOCÊS.


P.S: se alguém fizer parte de uma facção que não citei, deixe um recado nos comentários e eu atualizo, dando os devidos créditos.

P.P.S: Agradeço novamente à minha amiga Kallyne Ninotcha pela conversa que gerou esse post. E fique no Limbo só pelo tempo que for necessário, viu?

quarta-feira, 10 de junho de 2009

She Came In Through The Bathroom Window.

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Now playing on iTunes: Paul McCartney - Too Many People
via FoxyTunes

Sou um anacrônico beatlemaníaco. Daqueles que têm todos os discos, uma porrada de b-sides, leu livros, conhece várias lendas e o escambau.

E qual não foi minha surpresa em saber, ano passado, que estavam produzindo um videogame dos Beatles para o selo Rock Band?

Fiquei louco, atônito, ansioso. E a situação só veio a piorar quando soube que o lançamento seria feito em nove de setembro desse ano (09.09.09, Revolution 9)?

Se alguém souber de um lugar que compre um rim saudável, estou oferecendo o meu p'ra poder comprar um X-Box, o jogo e o conjunto com todos os joystick-instrumentos (a réplica do baixo em forma de violino Hoffner do Paul foi desenhada para canhotos!).

Compartilhem comigo a beleza do vídeo produzido para a introdução do jogo, criada pela Passion Pictures e pelo animador Peter Candeland, o mesmo responsável pelo Gorillaz. Um belíssimo trabalho que viaja em todos os períodos do Fab Four.

(O vídeo foi devidamente furtado do Smelly Cat.)





"- Where our we going, fellas?

- To the top, Johnny!

- And where's that, lads?

- Why, to the toppermost of the poopermost!"


Carpe Noctem. Amo vocês.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Confluente.

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Now playing on iTunes: Foo Fighters - Alone + Easy Target
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Essa dor,
fosse mesmo dor,
é dela?
Prejulgo.

Tal dor,
sendo mesmo dor,
é minha!
Pressinto.

Ingênuo coração.
Paladino de armadura,
mártir de ti.

Enquanto tu,
em suja masmorra,
a amar o Dragão.


Carpe Noctem. Amo vocês.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Eu sei que sou assim porque assim ela me faz.

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Now playing on iTunes: Amy Winehouse - Wake Up Alone
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Amar alguém é uma coisa muito brega. Sério, mesmo.

Certa feita eu estava indo p'rum lugar qualquer, de ônibus. O telefone do rapaz à minha frente toca. Ele me deu sinais suficientes p'ra supor que a pessoa do outro lado da linha pedira p'ra ele ficar na linha e esperar uma canção tocar.

Os segundos passavam. E ele não conseguia conter o sorriso. Num momento de arrebatação, ele ignorava o ônibus e sua voz terrível para berrar o refrão do tal forró que estava a ouvir. Depois disso, a pessoa retorna a linha e pede p'ra ele ouvir outra música. Outro forrozão, que ele cantava rasgado, com um sorriso maior ainda.

"Obrigado!", ele disse depois. "Eu adoro essa música!". E seguia daí uma série de clichezões telefônicos que todo mundo, uma vez na vida que seja, já disse, ouviu ou ainda os fará.

O ponto em que quero chegar é: o que importa a ele saber de toda a minha aparente depreciação ao tal fato?

Nada.

Porque ele está amando.

E isso é de uma beleza transcendente. Quando falamos em amor há um ponto, de alegria ou tristeza extrema, que todas as canções românticas, por mais bregas que sejam, fazem sentido. Mesmo as quais você não faz parte do target. O lirismo está em Sinatra e em Amado Batista - tudo é questão de anima, estado de espírito.

O supracitado rapaz do meu relato ficou felicíssimo. Ganhou o dia. E quem não fica, quando a pessoa amada dá uma pincelada de lirismo e interrompe todo o prosaísmo de contas bancárias, horários e trajetos de ônibus?

Que os sorrisos abestalhados dos enamorados continuem a contaminar nossas vidas. Incomodando. Elevando nossas taxas glicêmicas. Nos enchendo de vergonha alheia.

E nos fazendo acreditar que esse tal de amor, desacreditado que esteja, continua vivo.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Mico-leão dourado é o caralho.

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Now playing on iTunes: Jamiroquai - Black Capricorn Day
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Eu não acredito em quem defende o planeta. Sim, isso mesmo que você leu. Não acredito.

Defender os mares? A Floresta Amazônica? Os dragões-de-komodo? Balela. Todos estão se lixando p'ra isso.

Quem defende causas proambientais não está lutando para manter a longevidade do planeta. Está, sim, tentando garantir a sobrevivência dos seres humanos aqui. E nem são todos os seres humanos, vale salientar. O que o homem quer mesmo é preservar a si mesmo e sua linhagem (e não vou me ater a esse narcisismo, porque eu teria que incluir Freud na conversa e o texto seria no mínimo umas oito vezes maior).

Não estou dizendo que o esforço em preservar o planeta, por causa disso, perca sua legitimidade. O que eu não suporto, contudo é o discurso travestido de "salvem a Mãe Natureza", quando na verdade quer dizer "salvem o meu rabo". Se hipoteticamente não houvesse mais nenhum humano por aqui (e nenhuma supernova imprevista destruir todo o nosso sistema solar), a Terra possuiria plenas capacidades de recuperação. Pergunte isso a qualquer cientista da área.

Somos nós que obstamos o processo.

Sabe-se lá o motivo de termos "evoluído" a ponto de não contarmos com defesas naturais para sobrevivência. Não dispomos de garras, presas, asas, pelugem ou habitat natural. De fato, a alternativa foi lançar mão de nossa sapiência para modificar os recursos ao nosso redor e construir artefatos que facilitariam nossas vidas. O barro se transformava em cuia. O cipó se transformava em corda. A pedra se transformava em ponta de lança. E passamos a complexificar os problemas, o que demandou em soluções também mais complexas. Transformamos teares em indústrias, cavalos em automóveis e tambores em iPods. E em meio a esse processo passamos a nos considerar a coisa mais importante desse Universo. Porque só nós temos reveillón, supermercado e Jesus Cristo.

E tudo degringolou. A ponto da Terra chamar nossa atenção p'ra nos avisar que era nossa mãe, mas nós não éramos filhos de puta. Que se a gente não soubesse brincar com os outros irmãozinhos não ia mais ter banho, almoço nem quarto arrumado p'ra ninguém. Fizemos ouvidos de mercador e a situação só veio a piorar. Hoje estamos com uma situação de aquecimento global irreversível, catástrofes naturais avassaladoras e governantes que não param de poluir seus países em nome de um "progresso" que nos levará à extinção.

É fato que muitos estão aí p'ra minimizar os danos... Mas nós nunca defenderíamos o meio ambiente se não fosse por duas palavrinhas: impacto ambiental. E não é simplesmente o impacto que tal ação cause à natureza. E, sim, no que isso vai repecurtir nas vidas dos seres humanos. Mais especificamente, na minha vida.

Não me considerem um pessimista. Não estou convocando todos a um laissez-faire até que tudo exploda e não tenhamos mais chance. Apenas estou criticando o foco que os tais ambientalistas assumem como problema. Se realmente estivéssemos comprometidos em preservar toda a vida no planeta, não permitiríamos que nenhuma árvore fosse derrubada. Nem aquela que compõe o belo telhado da casa do ambientalista. Se o discurso de reposição de recursos fosse igualitário, todo mundo teria um filho novo para substituir o que foi atropelado por um ônibus.

Os únicos "ou" envolvidos nessa função são: ou a gente cuida do planeta onde vive ou viramos carta fora do baralho. Se conseguirmos salvar baleias, araras e a Mata Atlântica no processo, tanto melhor.

Um feliz Dia Mundial do Meio Ambiente para todos.


Carpe Noctem. Amo vocês.

P.S: gostaria de agradecer a Patrício Jr., por ter ampliado a discussão ao publicar esse texto no seu Plog.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Pense no Haiti. Reze pelo Haiti.

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Now playing on iTunes: Caetano Veloso & Gilberto Gil - Haiti
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Muitos se perguntam o porquê do nome do meu blog ser esse. Pois bem.

Ela é um excerto de uma música cuja letra é de Caetano Veloso e que figura num disco feito em parceria com Gilberto Gil, o Tropicália 2, de 1993. O supracitado disco não saía de minha playlist quando idealizei um blog. Como considero-me terrível para criar nomes, busquei como referência coisas que faziam parte da minha vida no relativo contexto.

Muita gente deve recordar-se dessa música, principalmente pelo refrão: "O Haiti é aqui / O Haiti não é aqui", mas deixa o resto da letra passar batido. Até mesmo porque ela é enorme e é praticamente recitada pelos dois gênios.

Convido os senhores a ler com atenção o texto abaixo. Na minha visão de jovem adulto, negro, nordestino e pequeno-burguês, a considero extremamente impactante. E atual, em tempos de Lula, Obama e de um Brasil que mudou muito pouco em sua essência e atitudes desses 16 anos p'ra cá.

Pensem. Rezem. E ajam, também, pelo amor de Marduk.

Sem mais delongas. Ei-la.


Haiti

(Caetano Veloso)

Quando você for convidado pra subir no adro da
Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se olhos do mundo inteiro possam
estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque com a pureza de
meninos uniformizados
De escola secundária em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada
Nem o traço do sobrado, nem a lente do Fantástico
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém
Ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do Pelô
E se você não for
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

E na TV se você vir um deputado em pânico
Mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo
Qualquer qualquer
Plano de educação
Que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua
sobre um saco brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina
111 presos indefesos
Mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui


Carpe Noctem. Rezem pelo Haiti.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Pigas.

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Now playing on iTunes: The Cardigans - Junk of the Hearts
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Engraçado perceber que, se há uma classe unida no mundo, é a dos tabagistas.

Eles parecem unir-se contra o mundo que os considera errados. Como hoje fazem os eco-chatos e os homoafetivos, eles nunca deixam um igual na mão. Não é preciso preocupar-se com a falta de cigarro ou fogo. Sempre há alguém solícito.

Parece brincadeira, mas é verdade. Se a sua vontade é manter-se no hábito/vício, nunca lhe deixarão na mão. E nadando contra a maré, rebatendo a moda em prol da manutenção do seu glamouroso e nobilíssimo comportamento, os fumantes seguem.

Lembro-me que, cinco anos atrás, estava fumando um Sampoerna num shopping de Natal (à época em que isso era permitido). Uma simpática senhora pedia emprestado o cinzeiro que estava em minha mesa (vale também ressaltar que o cigarro que eu fumava foi aceso com um isqueiro que havia pedido emprestado de um senhor que sentava à mesa ao lado da minha), chamando-me de "companheiro de cigarro" ou coisa que o valha.

Parece óbvio constatar que, se não estivéssemos inseridos naquele contexto, ela não me consideraria "companheiro" de porra nenhuma! O que, socialmente falando, uniria uma distinta parte das altas rodas a um garoto de vinte anos usando brincos e jeans rasgados? Mas, nesse momento, éramos amigos de infância. Partidários. Ativistas. Correligionários. Nostálgicos.

Cordialmente, entreguei o cinzeiro. "Já fumei o suficiente". Tenho certeza que ela não entendeu a profundidade do que eu falara, já que eu passaria anos sem fumar a partir daquele dia. E nem queria que ela entendesse: como revelar a uma velha amiga que eu não estaria apenas a traindo, e sim a todos nós, fumantes? Como dizer a ela que eu não seria suficientemente forte para sustentar o vício?

Não, nunca faria isso. Seria um choque à toda a comunidade se eu revelasse que era capaz de parar e pronto. Iriam acusar falta de envolvimento de minha parte.

E esse tempo todo, fiquei com medo que recorressem a mim na falta de um isqueiro.


Carpe Noctem. Amo vocês.


P.S: Como peço às vezes: não encarem esse texto como panfletário, apologia ou res que o valha. É um relato. Ponto. Não defendo lado nenhum.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Malte indonésio. Creme irlandês. Cravo e menta.

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Now playing on iTunes: Paul McCartney - Lady Madonna
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Sinto o aroma do cigarro apagado. Ela chega, blasé, fingindo desdém. Testa-me. Louca para que eu anteveja que é tudo fachada. Embora odeia quando percebo e afirmo isso. Ela quer fazer parecer que eu estou convencendo-a a ficar.

E ela fica. Tomo um café. O bruxulear das fumaças se encontrando. Ela não percebe que baixa a guarda e ri. Contento-me com as pequenas vitórias. Os minutos viram horas e não nos apercebemos disso. Ela nega o fato, mas está feliz.

Ela insiste, manhosa, que precisa ir, embora todos os sinais respondam o oposto. Levanta-se e beija, cálida, meus lábios. E ela vai embora. Acendo um cigarro. Orgulhosa, recusa-se a olhar para trás. Eu, por minha vez, acompanho trajeto e curvas, até que ela lentamente escapa da minha visão. E eu sei que ela está sorrindo, de uma forma toda dela.

Os três sabores que ela deixa em mim, quando chega, fica e vai embora.

Diferentes entre si. Incompreensíveis. Indescritíveis. E irresistíveis.


Carpe Noctem. Amo vocês.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ensaios Sobre as Paixões (11)

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Now playing on iTunes: The Beatles - Mother Nature's Son
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Ato XI: Pathos-Obcecação


Eis que encaro




um novo jaez




de cegueira:




o de te ver




em qualquer lugar.





Carpe Noctem. Amo vocês.