quarta-feira, 23 de julho de 2008

For All The Cows.


Aí está ela, o símbolo do povo oprimido:

A vaca.


Sim,ela mesma. “Mu” e tal. Vocês a conhecem.


Vigorosa. Poderosa. Robusta. Um perigo potencial, com seu corpanzil, sua velocidade e seus chifres...


...e, no entanto, tão dócil que alcança facilmente a submissão. Uma corda no lugar certo, e lá está ela: caída, imóvel. Levada para onde quer que bem-entendam.


À mercê.


Mesmo os seus chifres parecem lhe escapar à memória, posto que ela raramente os utiliza como instrumento de defesa. Muito pelo contrário: seus grandes dominadores às vezes os tomam como fossem rédeas. E quando o chifre configura mesmo como perigoso, é arrancado.


Em alguns casos, demonstra hostilidade. Mostra os chifres e corre em direção àquilo que a perturba. Mas todos nós sabemos quão fugaz é uma carreira de vaca.


[Além do que, nunca ouvi casos de vacas cujos rompantes de ódio ao opressor culminassem em outorgá-la ao posto de dona da fazenda.]


Encurralada desde o nascimento. Marcada. Morta para alimentar quem pode, às vezes ainda jovem. Tangida. Obrigada a abaixar a cabeça p'ra poder comer qualquer coisa que a fome encontre. Enfim: a vaca é um bicho sem consciência de todo o seu potencial e do que atingir se assumisse uma postura digna de seu poder e/ou periculosidade.


Que nem a gente.




Carpe Diem. Amo vocês.




[P.S: Não, eu não sou vegetariano. Não, eu não sou filiado a partido algum. E não, eu não acredito que eu tenha sido o primeiro a fazer essa analogia. Eu apenas a fiz.]

terça-feira, 22 de julho de 2008

Loser.


O que eu falo não agrada,

O que eu faço não se aprova,

O que escrevo não se lê,

O que eu vejo é proibido.


Meus discursos são contestes,

Meus desenhos são dispensáveis,

Meus deuses são repulsivos,

Meus livros são censurados.


Meu canto é condenado,

Minha dança é descompassada

Meus acordes são ruins.


Mas um dia irei morrer.

Não se preocupem, não irei me matar.

Mas um dia irei morrer.


E será a única coisa

Que eu sei que vou

Fazer direito.


Carpe Diem. Amo vocês.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Forsaken.


O famoso Mestre Raposa Austera, da Guilda Lâmina do Trovão resolveu tomar dois garotos como seus pupilos, por notar em ambos tanto a paixão pela esgrima quanto um talento bruto e latente.

Os dois jovens sentiram-se extremamente lisonjeados pelo convite feito, como qualquer outro ficaria. Veja só - ser treinado por Raposa Austera em pessoa! E não titubearam: juntaram uma pequena muda de roupas, despediram-se de suas famílias e foram com o Mestre para a sua morada, num desfiladeiro a noroeste do vilarejo onde moravam.

Lá chegando, foram apresentados a seus dormitórios e receberam suas vestes e espadas de treinamento. Além disso, foram informados de suas atribuições diárias e das regras para se manterem treinando com o Mestre.

Receberam, também, seus nomes rituais. A partir daquele dia, seriam chamados de Tigre Ingente e Lobo Célere.

Após um dia de descanso, Tigre Ingente e Lobo Célere seguiam as suas rotinas diárias. Acordavam com o cantar do galo, realizavam as tarefas domésticas e encontravam-se com Raposa Austera para o treinamento, que durava três exatas horas até hora do almoço. Serviam-se da refeição, repousavam por uma hora e retornavam aos treinamentos, que seguiam até o cair da noite. Após o jantar, o Mestre reunia seus pupilos ao redor de uma fogueira para contar as lendas dos grandes guerreiros e ensiná-los sobre o espírito da luta com espadas.

O tempo passava e os alunos de Raposa Austera desenvolviam sua técnica na esgrima. Porém, todos os treinos sem exceção revelavam um detalhe: embora Tigre Ingente contasse com potentes ataques em quaisquer posição que assumisse, sua defesa era deficitária e pouco disciplinada. Após o terceiro ou quarto golpe seguido de Lobo Célere, a espada de madeira o atingia nas faces, cabeça, pescoço ou onde quer que o golpe fosse direcionado.

Quando repreendido por seu Mestre, Tigre Ingente simplesmente ignorava o fato, retrucando que o seu objetivo era desenvolver força suficiente para vencer uma batalha ao primeiro golpe, ferindo ou desarmando. E, como realmente apresentava potencial para o que desejava, Raposa Austera meneava e o treino prosseguia. “Um dia ele mudará de idéia”, pensava.

Em contrapartida, Lobo Célere trabalhava como um exemplo de obediência, técnica e disciplina. Seus ataques e defesas tornavam-se cada dia mais precisos.

Anos se seguiram. Os treinos se intensificavam. Tigre Ingente tornou-se mestre em desarme, como desejara. Seus combates terminavam sempre que acertava o primeiro golpe. Mesmo a maestria da técnica em defesa de Lobo Célere por vezes vacilava.

E Lobo Célere tornou-se um esgrimista de extrema precisão. Seus golpes sempre acertavam seu alvo. Porém, sem força alguma. Os anos de treino em que zelava pela integridade de Tigre Ingente condicionaram seus golpes a movimentos belíssimos, porém ineficazes.

Uma virtual nobreza de sentimentos relegando alguém a um estado permanente de mediocridade.

E essa é a história de como Lobo Célere não tornou-se o maior guerreiro de todos os tempos.


Carpe Diem. Amo vocês.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Headwires.



Quis jogar no teu time.
E, mesmo com dez em campo, você me plantava no banco.


Quis vencer as tuas lutas. Apenas eu contra os exércitos inimigos.
Você só me armava com curativos.


Quis vestir a camisa.
Mas você me dizia que camisas novas saíam muito caro.


Quis carregar tua bandeira.
Mas, apesar de tua insistência, o mastro era por demais pesado a que eu pudesse fazê-lo sozinho.


Quis abraçar a tua causa.
Quando percebi que não havia causa nenhuma e que você detesta abraços.


Quis honrar teu nome.
Mas você já não tem nome algum.

Larguei tua mão. E a vida me deu outra.
Muito prazer.
Sou o seu mais novo fracasso.


Carpe Diem. Amo vocês.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Melhor p'ra você se ela foi embora.





“Às vezes parece que eu não tenho medo. Às vezes parece que eu não tenho dúvidas. Às vezes parece que eu não tenho nenhuma razão p’ra chorar.

Você esquece que eu não sou de ferro (até o ferro pode enferrujar). Você esquece que eu não sou de aço e faço questão de provar: ‘Olhe p’ra mim enquanto eu me quebro’.

Às vezes parece que eu tenho muito medo. Às vezes parece que eu só tenho dúvidas. Às vezes parece que eu não tenho nenhuma chance de escapar.

Acontece que eu não nasci ontem (até hoje sempre escapei com vida). P’ra quem duvida de tudo que eu faço eu faço questão de mostrar: ‘Olhe p’ra mim... enquanto... desapareço no ar’.

Não queira estar no meu lugar. Não queira estar em lugar nenhum. Às vezes tudo muda e continua tudo no mesmo lugar.

Não queira estar no meu lugar. Não queira estar em lugar nenhum (um lugar comum). Às vezes uma prece ajuda. Às vezes nem adianta rezar.

Já desisti de ser uma pessoa só. Já desisti de ser uma multidão. Já não ponho todas as fichas na mesa. Agora... jogo algumas no chão.

Às vezes tudo, às vezes nada. Às vezes tudo ou nada, às vezes 50%. Às vezes a todo momento, às vezes nada. Como tudo na vida, não é sempre.

Às vezes de bem com a vida, às vezes de mau humor. Às vezes sem saída, às vezes seja onde for. Não é sempre. Não é sempre. Como tudo na vida...

Nunca é sempre.”


[Humberto Gessinger - Não É Sempre]



Carpe Diem. Amo vocês.