segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Impressões sobre o novo lado de fora.

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Now playing: The Beatles - Come Together
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Os primeiros
a
terem
a
bela
vista
panorâmica
do
prédio
são
aqueles
que
não
a
terão
nunca mais.


Carpe Noctem.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Íncubo.

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Now playing on iTunes: Paul & Linda McCartney - Smile Away
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O breve aroma de uma rosa recém-colhida.

O bombeiro que dá bom-dia ao arrombar uma porta.

A bela lavadeira cobiçada pelo jovem mecânico.

Uma tempestade atingindo a Macedônia.

O cair da neve nas faces infantes.

O primeiro pagamento do mercador birmane.

A asa ferida de um alma-de-gato.


Sou um demônio que vaga pelos paraísos dos outros.


Carpe Noctem.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

"Merda."

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Now playing on YouTube: Michael Jackson - Baby Be Mine
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Mudanças.

Elas surgem, invariavelmente. Algumas, de surpresa. N'outras oportunidades, a gente mesmo cava a falta.

E independente de quais sejam, elas trazem um aperto no peito. Aquela sensação de que ela pode ter aparecido num momento inoportuno. Mesmo sendo a coisa certa, surgiu na hora errada.

Neofobia. Amarga. Esquisita.

O que fazer diante do caminho novo? Quem foi o filho-da-puta que esqueceu de comprar o caralho do mapa antes da viagem começar?

E, se você não vive num planetoide com uma rosa na redoma, é muito provável que você precise explicar dessa mudança. E é preciso confrontar toda a miríade de reações possíveis.

É comum magoar alguém p'ra se arriscar mais feliz. Às vezes, no afã de se fugir da dor, é até provável que alguém responda "Não quero você mais feliz. Quero você comigo."

E você de início repudia tal jaez de atitude. E depois se recorda de todas as vezes em que você mesmo já chegou a dizer, ou querer dizer, isso a alguém.

Mesmo que não com essas palavras.

Ah! Também há o tétrico receio de ouvir desse alguém um "Eu não disse?". O que dói como chicote ao nosso brio.

Em certas horas, o inevitável há de ocorrer:

Fechar os olhos. Prender a respiração. E pular de cabeça.

Torcendo p'ra que, lá embaixo, haja ao menos o suficiente de água.


Carpe Noctem.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Deus ex machina.

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Now playing on iTunes: Paul McCartney - Summertime
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[Dedicado a (embora não seja baseado em) Dalila Porto]


Com muito pesar, cheguei a uma conclusão: você nos sabota.


Talvez movida pelo prazer de viver no limite, você brinca, sem habilidade alguma, com a linha da navalha dessa relação esquizo e esquisita.

Nutre um deleite pela lágrima. Um êxtase pela consequência dum não.

Roteiriza. Elabora áudio e vídeo, quadros e fotografia.

(De não termos dias juntos. E, sim, episódios-de-hoje.)

E você encaminha tão bem que omite isso de mim. E, se é que é possível, omite isso de si própria.

(Teu prazer é pela dor real.)

O que sinto é triste e infinito. Um marejar de olhos que obceca e aprofunda.

E sinto medo em começar a ter de admitir que, de me acostumar a esse sabor, em meio ao ocre e ácido, algo adocicado vem surgindo à papila.

Minha queixa é simples: se queres que eu participe, retire-me do elenco e inclua-me na direção.

Embora creia que isso soe impossível.

Já que, ao que tudo indica, você adora me ver distante.


Carpe Noctem.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

I Want You Back.

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Now playing on iTunes: Paul McCartney - Winedark Open Sea
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Ponta Negra. Eu tinha 7 anos e cumpria com meu pai a programação de quase todo domingo: caminhar pela praia de uma ponta a outra do orla, subir o Morro do Careca (quem mora em Natal deve calcular quanto tempo isso deve fazer), descer e caminhar até a Barraca da Alice p'ra tomar caldo de peixe.

Durante a caminhada, uma canção que tocava em outra barraca chamou a minha atenção. Era a mesma música que conhecia recentemente, numa versão notadamente distinta.

"Olha, Pai! A música de Michael Jackson!"

E lá vai meu pai explicar que a canção original não era de Michael Jackson. Na verdade, ele havia feito uma versão de algo de 20 anos atrás.

Conheci a tal "música de Michael Jackson" vendo o filme que passou boa parte da minha vida sendo considerado a melhor e mais importante obra do cinema de todos os tempos:


Moonwalker.

A história bestinha de um herói-com-poderes-mágicos-que-com-a-ajuda-de-três-crianças-vence-o-super-vilão-e-salva-o-mundo, é batidíssima. Mas não era, nunca foi e nunca será isso o mais importante do filme.

E isso é óbvio.

O importante era saber onde estavam os clipes mais legais para poder vê-los e rebobinar a fita (eeeita) para vê-los novamente.

E não eram poucos, diga-se de passagem: Bad, Smooth Criminal, Speed Demon, Leave Me Alone... era um absurdo de qualidade técnica e da performance indiscutível d'O Rei.

Se bem que, diferente das outras vezes, comecei pelo final. Para ouvir, agora em outro zeitgeist, a "música de Michael Jackson".

E eu nunca vou me esquecer de como eu ficava embasbacado com tudo aquilo. E de como eu vi Moonwalker de novo e senti o mesmo de 18 anos atrás, quando o mundo todo via aquilo com outros olhos.

De uma época em que uma mulher agarrar na coxa não dizia da depravação de ninguém. Que camisa amarela, camiseta rasgada, jaqueta com penduricalhos e cinturão de campeão de boxe não diziam da homossexualidade de ninguém. Que crianças no backstage não diziam da pedofilia de ninguém.

Ah, vocês lembram da canção que eu me referi no começo?



Era "Come Together".


Carpe Noctem.


P.S: gostaria de agradecer a meu irmão Luiz Victor, de 7 anos, fã de Michael Jackson, que emprestou-me o DVD do Moonwalker. Amo você.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ê, Brasilzão...

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Now playing on iTunes: Paul McCartney - Angry
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- Alô?

- Opa! Diz aí.

- Ei, bicho, tu 'tá fazendo o quê?

- 'Tô em casa, lendo.

- Ah, já que você também não 'tá fazendo nada, vamo sair p'ra algum canto?

- Como assim, não 'tô fazendo nada?

- Ué, você não disse que 'tava lendo?

[...]


Carpe Noctem. Amo vocês.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Venus and Mars.

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Now playing on iTunes: The Cardigans - Celia Inside
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Fim de 2007. Estávamos em João Pessoa, fugindo do Carnatal, hospedados no apartamento de uma amiga.

Por coincidência, no apartamento dessa amiga havia um Playstation, ao qual recorríamos entre uma farra e outra. Mulheres, cerveja e videogame era a tríplice que mantinha nossos dias muito melhores.

Duas coisas eram recorrentes nesse apartamento: 1) aparecer lindas amigas da nossa anfitriã e 2) elas se incomodarem com o fato do videogame estar sempre ligado, alegando que a gente deixava de beber e conversar só porque no mínimo um de nós estaria focado na sincronia entre televisão e joystick.

(O que, inclusive, era um grande equívoco: nenhum de nós parava de beber e/ou conversar por conta disso).

Até que, num determinado momento, uma das supracitadas amigas ficou em frente à televisão, barrando a imagem:

- Vocês ficam jogando aí e não dão atenção p'ra gente!

E, sem titubear, um amigo pressionou o "pause", largou o joystick, olhou fixamente para ela e respondeu:

- Pronto, você tem 100% da minha atenção, agora. O que vamos fazer?

Ela engasgou, gaguejou, desconversou e saiu de frente da televisão. Simples assim.

E esse episódio diz tudo sobre as relações homem-mulher.


Carpe Noctem. Amo vocês.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Tradução.

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Now playing on iTunes: The Beatles - Devil In Her Heart
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E pela primeira vez na vida, eu lhe vejo escolhendo as palavras.

Não que isso soe como uma falha de caráter. É apenas a surpresa, mesmo. Tu, que tens sempre as palavras tão bem-escolhidas, um discurso que beira o memorizado.

Como diriam alguns, "você tem opinião p'ra tudo".

E hoje lhe vejo, escolhendo as palavras.

Seria medo? Susto?

O que falas não faz sentido para mim. E ao que parece, nem mesmo a ti.

Seria isso? Ou um esforço para acessar, disfarçar ou fingir tristeza?

Não sei.

Só sei que se eu pudesse escolher as palavras que dirias a mim, jamais seriam essas.


Carpe Noctem. Amo vocês.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Lumiére.

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Now playing on iTunes: The Beatles - Only A Northern Song
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"Eu sou o tenebroso, o irmão sem irmão, o abandono, inconsolado. O sol negro da melancolia.

Eu sou ninguém, a calma sem alma que assola, atordoa e vem no desmaio do final de cada dia.

Eu sou a Explosão, o Exu, o Anjo, o Rei, O Samba-sem-canção, o Soberano de toda a alegria que existia.

Eu sou a contramão da contradição, que se entrega a qualquer deus-novo-embrião pra traficar o meu futuro por um inferno mais tranquilo.

Eu sou o Poderoso, o Bãbãbã, o Bão! Eu sou o sangue, não! Eu sou a Fome! do homem que come na brecha da mão de quem vacila.

Eu sou a Camuflagem que engana o chão. A Malandragem que resvala de mão em mão. Eu sou a Bala que voa pra sempre, sem rumo, perdida.

Eu sou a Explosão, o Exu, o Anjo, o Rei. Eu sou o Morro, o Soberano, a Alegoria que foi a minha vida.

Eu sou a Execução, a Perfuração. O Terror da próxima edição dos jornais que me gritam, me devassam e me silenciam.

Eu sou Nada e é isso que me convém. Eu sou o sub-do-mundo. E o que será que me detém?"

(Lobão - El Desdichado II)


Carpe Noctem. Amo vocês.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

As Nove Faces das Musas (2)

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Now playing on iTunes: Foo Fighters - The Deepest Blues Are Back
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A Cruzada da Dor Primeira surgiu em 1997 envolta a um clima de descoberta das coisas: o contato entre duas pessoas dispostas a arrancar deleite do encontro dos lábios. E apenas por isso, ela já seria um marco. Entretanto, conspirações político-religiosas fariam com que as alianças se enfraquecessem e dessem abertura para os eventos que ocorreriam a seguir.

Na forma de um golpe se iniciaria, ainda em 1997, a Cruzada da Dor Segunda. A gradadativa fragilização, concomitante a pressões e garantias externas, fizeram o processo de coligação ocorrer de forma espontânea. Mas, em determinado momento, o processo de domínio de recursos parecia pouco para uma das partes. Uma tentativa frustrada de plantar uma traição fora descoberta, o que por si só arruinou toda a prosperidade da relação.

Uma manobra involuntária ao final do mesmo ano seria importante para o início da Cruzada da Dor Terceira. A intervenção de uma equipe de publicitários foi maciça o suficiente para as diferenças entre as partes ser totalmente esquecida. Assentada a poeira, após meses de negociações sem comum acordo, o caso fora arquivado.

1997 também testemunharia a Cruzada da Dor Quarta, ocasionada por uma reforma no campo da educação. Mesmo sendo oficial, ela teve pouca força por conta de alegações de monopólio.

A Cruzada da Dor Quinta surgiria em 1998, incentivada por aliados externos. Parecia promissora, se não fosse por acusações nada infundadas de traição. Lições seriam ensinadas. Lições seriam aprendidas.

Durante o segundo semestre de 1998 se iniciariam os eventos que levariam à Cruzada da Dor Sexta. Mas, mesmo com apoio de todas as partes e aliados envolvidos, ela encerrou-se sem um marco específico e por motivos que seriam e continuam sendo obscuros às partes.

Anos se passariam até que outro evento fosse iniciado. Apenas em 2001 ocorreria a Cruzada da Dor Sétima, também conhecida como Primeira Grande Cruzada da Dor. Todos os eventos dentro dela foram organizados para que fosse definitiva, até que um inexplicável abalo de confiança ocasionasse o rompimento de relações.

Os eventos que levaram ao seu fim propiciaram uma reavaliação de dinâmicas, embora politicamente nada pudesse ser feito de concreto. Tendo em vista um período de resoluções, fez-se necessário omitir as próximas jogadas geopolíticas, e se instituiria a Primeira Cruzada Secreta da Dor, também conhecida como Segunda Grande Cruzada da Dor a qual deu-se entre o fim de 2001 e início de 2002 e encerrou-se pela previsível falta de estabilidade que dela ocorreria.

Em meio a desavenças políticas surgidas ainda da Primeira Grande Cruzada, surgiriam oportunidades estratégicas de saída e reaberturas a pactos nunca dantes concluídos. Uma nova rodada de negociações faria, ao fim de 2002, surgir a breve Cruzada da Dor Oitava.

Pouco tempo depois, com recursos renovados, haveria estrutura para engendramento da Cruzada da Dor Nona, que se estenderia até início de 2003 e demonstrou que possuía mais força quando não-oficial.

Outro hiato surgiria até o fim do primeiro trimestre de 2004, quando do advento da Cruzada da Dor Décima. A qual, apesar de também promissora, se enfraqueceria ante eventos posteriores.

Ainda em 2004, dentre uma série de eventos irregulares, ocorria a Segunda Cruzada Secreta da Dor, a Terceira Grande Cruzada da Dor, que atravessaria os anos de 2005 e 2006.

E mais de um ano se passaria até a Cruzada da Dor Décima Primeira, a Quarta Grande Cruzada da Dor, que mais uma vez soaria definitiva. Um evento imerso em conflitos, paranoia e acusações de traição (dessa vez infundadas).

E cá estou eu, torcendo para que a próxima Cruzada seja a última. Pelo menos, a última da Dor.


(Face-Clio, Ato II:
"Minha vida afetiva")


Carpe Noctem. Amo vocês.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Antissuserano.

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Now playing on iTunes: Kings Of Leon - Molly's Chambers
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Hoje o meu Quarto ficou pequeno.

Meu feudo, domínio e caos-pessoal não era o bastante para conter-me.

O colchão espinhava. O violão emudecia. As paredes diminuíam.

Meu corpo se contorcia. A respiração dificultava. Vi-me em involuntária posição de feto.

Doía cada passo dado. Cada inspiração, uma gestação. Cada expiração, um parto.

Em meio à extenuante cefaleia, tateei a parede, encontrando uma nova textura. Tecido.

Afastei-o e senti vidro. Com o pouco da força que restara de mim, golpeava o vidro. As mãos ensanguentadas, absorvendo os estilhaços menores e repelindo os maiores.

Após muita resistência, a estrutura cedeu. Um raio de sol finalmente fugia de seu cárcere de janelas e cortinas.

O olho estranhava o estímulo. Estranhou até transcorrer a era de estranhar. A luz aos poucos oferecia aos meus olhos o direito de permanecer abertos.

E eu o vi.

O Mundo.

A princípio, ele não parecia oferecer nada. Nem era somente meu! E eu, contorcido, ofegante e com as mãos vertendo sangue, não o senti apto para mim.

Até vê-la. E ela ver-me. E ela sair dali. E eu vê-la saindo.

E por um segundo, sorri com a simples possibilidade de conforto, ar e cura. Afastei o vidro e saltei a vê-la.

Quem disse que não era somente meu?

Hoje o Mundo ficou maior que meu quarto.


Carpe Noctem. Amo vocês.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

From The Birth.

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Now playing on iTunes: Queens of the Stone Age - Quick and to the Pointless
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E agora, estou eu aqui: indo p'ra casa debaixo de chuva. Uma vontade de não falar com ninguém contrastando com o desejo de ser ouvida.

E lembro do abraço pseudocasual que queria lhe dar, e de tudo que ensaiei que ia lhe dizer, e das tantas vezes que me recordei que nunca funcionei à base de ensaios, e de tantas vezes que o ciclo se reiniciava. Até lembrar que, ensaiando ou não, a grande luta era SE eu iria iniciar qualquer diálogo contigo.

E lembro de como deixei meu cabelo e roupas e tênis e cor de batom compondo um conjunto que, ao mesmo tempo que faria ensejar qualquer elogio teu, soaria suficientemente casual para não lhe encher da certeza de que toda a composição fora criada tendo em mente o teu único agrado.

E pensei em todos os ambientes que poderíamos partilhar aquela noite. Do quão ébria eu deveria estar. De todas as situações e possíveis rumos que a conversa tomaria para, com ou sem ganchos inteligentíssimos, pudesse estabelecer um ponto em que eu diria, para mim mesmo e para ti, que eu desengasgaria de todo o sentimento nutrido. De toda a paixão adiada.

E essa seria a noite. Pensara em todas as variáveis.

E a única que me escapara foi a que ocorreu de puxar o meu tapete. Ela, surgindo de braços atados aos teus.

E ela era nova a mim. E pelo frescor em teus olhos, unido àquela leve artificialidade nas feições, vi que também era nova a ti. Sendo assim, Como não pôde ela respeitar o ano-e-meio em que fui meticulosa a ponto de eleger essa noite A noite? Que direito ela teria de sabotar o avant-premiére das nossas vidas juntos? E como ELE poderia sentir tanto prazer diante disso?

E por um breve tempo cheguei a sentir a leve impressão de que ele havia feito tudo aquilo deliberadamente. Que, na verdade, quem engendrava a teia era ele. Que ele me fez acreditar que planejei tudo isso para que jogasse na minha cara o quanto me odiava.

E desisti de pensar nisso quando percebi que nem eu, embriagada como estava, conseguia concordar com minha própria sandice.

E eu não senti dor. Não-doía como uma pancada na cabeça que deixaria suficientemente consciente para ver o trajeto ao chão. Como uma criança que machuca o joelho e não chora enquanto não vê a mãe. Mas eu sei que corri dali. Na busca frustrada por um abraço, um sorriso ou um olhar não-teus.

E o pior de tudo é que eu não sei o que disse, fiz ou mesmo senti nesse meio-tempo.

Só sei que agora, estou eu aqui: indo p'ra casa debaixo de chuva. Uma vontade de não falar com ninguém contrastando com o desejo de ser ouvida.


Carpe Noctem. Amo vocês.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Evangeline.

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Now playing on iTunes: Paul McCartney - Uncle Albert-Admiral Halsey
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Plano aberto. Quarto da casa dele.

A luz da televisão projetando no casal as únicas cores de toda a casa. O amigo com quem dividia o apartamento viajaria por todo o fim de semana. Não que as coisas mudassem muito com isso, mas pelo menos dava p'ra namorar com a porta aberta.

O casal assistia a um filme. Nenhum lançamento - apenas um filme que eles deixaram passar batido nesses anos de namoro, viram em alguma banquinha de DVDs piratas e aperceberam do fato. Os dois, enrolados no edredom, viam uma cena protagonizada por um galã hollywoodiano.

Plano fechado no casal. Subitamente, ela se vira para o namorado e pergunta:

- Posso fazer uma pergunta besta?

Com os olhos ainda fixos à tela, ele responde:

- Pode, sim.

- Mas se não quiser responder, não responde.

- Un-hun.

- Se você pudesse escolher uma atriz...

- Ih, lá vem...

- Não, pô! Sem besteira!

- Sei...

- Sério! Se você pudesse escolher uma atriz p'ra passar uma noite, qualquer uma...

- Meu Deus...

- Deixa de ser chato! Entra na brincadeira!

- 'Tá bom, 'tá bom! Eu "entro na brincadeira". Mas você vai ter que responder uma coisa.

- O que é?

- E se você pudesse escolher um ator? Quem seria?

Ela fica sem-graça e empalidece um pouco. Nada perceptível à tão pouca luz ambiente. E aponta para a tela.

- Ele? Sério mesmo?

- É... É, sim! Seria com ele.

Ele olha om um certo desdém. Menea com os olhos entreabertos.

- Ah, mas é só faz-de-conta, seu bobo!

- Eu não estou dizendo nada!

- Não com a boca!

- Deixa p'ra lá, sua boba!

Eles gargalham, fazem cócegas um no outro. O edredom cai no chão e ele o recolhe. A noite estava fria. Continuam a ver o filme.

- Ei! - Ela grita, olhando para ele de forma inquisitiva, com um olho fechado e um bico.

- Oi.

- Você não me falou quem era a sua!

- Ah, foi!

- Então? Fala, logo!

Ele olha para cima, pensativo:

- Ehh... qual é o nome dela, mesmo? A daquele seriado que você vê...

- A protagonista?

- Não, não... Aquela que faz o papel da amiga dela.

- Ah, sei, sim!

Ele demora a dizer, mas responde:

- É... acho que seria ela!

- Sério?

- Sério.

- Hmmm... então, 'tá bom.

O silêncio reina no recinto. Os olhos dele voltam a se fixar à tela. Momento tenso do filme.

- Posso dizer uma coisa? - Ela questiona.

- Un-hun.

- Eu não gostei, não!

- Ahn? Não gostou do quê?

- Você jura por Deus que não vai reclamar?

- Reclamar do quê?

- E nem vai rir!

- Rir do quê? - Ele já começaria a ficar impaciente.

- É porque... é...

- Fala!

- Ela nem é daquelas loiras falsas...

- Não, não é...

- Nem daquelas gostosonas siliconadas...

- Também, não...

- Ela é até sardentinha!

- É, sim...

- Tipo... é daquelas mulheres que outras mulheres também achariam bonitas! Proporcional, sem peitão, sem bundão... Daquela beleza que se pode encontrar no meio da rua!

- Mas ela não está no meio da rua. Está em Hollywood!

- Eu sei, mas... Mas... Ah!

- O que foi?

- Você ficaria com raiva se eu dissesse que 'tô com ciúmes?

- Putaqueopariu...

E esse foi mais um caso clássico de mulheres que se frustram diante da imprevisibilidade masculina.


Carpe Noctem. Amo vocês.