quinta-feira, 16 de julho de 2009

Eu, ONU de mim.

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Muitos dos que visitam o blog sabem que sou psicólogo. E, como tal, tenho como uma das principais atribuições a de mediar conflitos.

Segundo amigos meus, eu já possuia essa habilidade antes mesmo de pensar em fazer faculdade. E, diga-se de passagem, isso parece ser mesmo verdade, pelas vezes que as pessoas demandam meus préstimos, mesmo "à paisana". Não sei o que tenho escrito na testa, mas deve sinalizar bem. Não são poucas as vezes que até mesmo pessoas que nunca me viram na vida chegam a mim p’ra fazer confidências ou resolver questões externas.

As prováveis causas para isso acontecer podem ser várias. Eu mesmo tenho algumas hipóteses em mente.

Mas não é esse o foco.

A questão é: como se acostumam à minha persona centrada, resoluta e solícita (coisa que, acreditem, eu NÃO sou 24/7), parece que as incomoda presenciar qualquer comportamento que destoe dela. Qualquer traço irracional, conflitante ou indeciso soa inadequado.

Mesmo nas relações pessoais, quando surge um episódio de um Breno-irado, Breno-teimoso ou Breno-imprudente, logo vem a crítica. Já fui chamado de “cruel” apenas por ter sido sincero em vez de ter assumido a velha postura do ouvinte incondicional. Como se o inesperado tomasse forma de inconcebível. E quantos danos isso já me causou...

Mudando sem mudar de assunto, recordo-me de uma vez em que eu participava de um projeto de extensão em Plantão Psicológico, para atender pacientes e parentes do setor de politrauma do maior hospital do Rio Grande do Norte. Fui incumbido de atender uma família que havia acabado de chegar. Um rapaz sofrera um razoavelmente grave acidente de moto. Chega um casal de idosos, seus pais, e uma garota. A senhora e a garota choravam de forma desesperada. Falei com a moça e perguntei se ela era namorada do rapaz. Ela respondeu que era ex-noiva dele. Estranhei, em princípio.

O pai do rapaz contou como ocorrera o acidente, passou o tempo inteiro cuidando delas duas, sobretudo a esposa. Quando as crises de choro dela tornavam-se mais graves, ele a abraçava serenamente. Falava palavras doces. Solicitaram um calmante injetável e ela permaneceu um tempo, inquieta, para depois entrar num estado semelhante a um cochilo. A garota acompanhou o pós-operatório do ex-noivo. O senhor, em certo momento, escapou um comentário importante p’ra análise daquela dinâmica:

“Eu estou uma bomba-relógio”.

Quando o pai do rapaz viu que a situação se estabeleceu ele olhou para mim. Retirou um lenço do bolso da camisa. Olhou para baixo. E caiu num agudo e sofrido pranto. Começou a relatar sobre os conflitos entre o seu filho, a esposa e a ex-noiva. Pelo que seu discurso indicava, ele era a liga entre as relações. O apaziguador. Portanto, não poderia demonstrar fraqueza no momento em que precisava exalar fortaleza.

Empatizei logo de cara com o senhor do relato acima. Às vezes, dá a impressão que eu não posso perder as estribeiras p’ra não desabar tudo. Como se pensassem: “É, se nem Breno consegue ficar calmo diante disso, fodeu tudo”.

Algumas relações em que entrei, inclusive pareciam abusar disso. Tanto em casos como “Eu posso endoidar, aqui, já que ele vai sustentar pelos dois” quanto “entre ele ou outro, vou escolher o outro porque ele consegue aguentar melhor uma má notícia”. O mais paciente sempre acaba por último. Nice guys finish first.

E é isso. Esse é um manifesto pelos meus direitos. O de ficar puto. Triste. De magoar outra pessoa. O de não ter resposta p’ra tudo. E, acima de tudo, o de soar inseguro.

E se por acaso você não esperasse nunca que iria ler palavras como essa por aqui... é porque meu desabafo funcionou a meu contento.


Carpe Noctem. Amo vocês.