
Desde que me mudei para a casa onde moro atualmente, convivia diariamente, ao mesmo horário, com a mesma cena: uma senhora negra e robusta, como estaria num quadro de Debret, segurando um lindo e felpudo cachorro branco. Sempre cabisbaixa, com sua camisa sem mangas, calças curtas e chinelos.
Até hoje, não faço ideia de onde ela more ou o que faça da vida. Sempre que a vejo, ela está na rua de paralelepípedos, a passear com o tal cachorro. Tampouco sei o seu nome, nem o do cachorro. Mas de tudo o que falei, o que mais me encafifava era a sua postura: cabisbaixa. Talvez por isso remeti a Debret e infiro que nem o cachorro nem onde ela more sejam delas.
O fato é que essa postura a defendia de mim, tão habituado aos “bom-dia”s e “boa-tarde”s que costumo lançar aos vizinhos que encontro pela rua. Sempre que a via, tinha de passar batido, o que reforçava sua imagem debretiana aos meus olhos. Irônico, dado o fato de que, fenotipicamente (no sentido figurado, antes que os geneticistas me crucifiquem), de sinhôzinho eu não tenho nada.
Senti-me desafiado, embora eu não soubesse como reagir.
Até que, certo dia, passava pela rua e a tal senhora estava a conversar com outra. “Boa-tarde”, falei, esperando apenas uma resposta.
Quando as duas me responderam.
Mesmo tendo sido a resposta da debretiana senhora um balançar de cabeça áfono, senti-me contente. Vícios do psicólogo que inda mora aqui.
E o canal foi aberto. Das minhas subidas de ladeira às oito e poucas da manhã com os fones de ouvido troando nos tímpanos, a encontrava com o seu Sancho Pança na coleira:
“Bom-dia!”
“Bom dia.”
E anteontem, voltando do trabalho para casa, a encontro na rua, carregando vocês-sabem-quem. Com os supracitados fones de ouvido a castigar os tímpanos, entoo meu “boa-tarde!” e leio nos lábios dela algo fora do padrão.
Tiro os fones do ouvido.
“Oi?”
E ela responde, vigorosa:
“Nunca mais te vi!”
Explico a ela que agora saio mais cedo de casa. Ela sobe com o alvo quadrúpede. Ponho os meus fones de ouvido e continuo a descer a ladeira.
Com um sorriso besta nos lábios.
Por mais simples que seja o contexto, é muito bom se deparar com um Encontro. Desses com “E” maiúsculo.
Carpe Diem. Amo vocês.
Até hoje, não faço ideia de onde ela more ou o que faça da vida. Sempre que a vejo, ela está na rua de paralelepípedos, a passear com o tal cachorro. Tampouco sei o seu nome, nem o do cachorro. Mas de tudo o que falei, o que mais me encafifava era a sua postura: cabisbaixa. Talvez por isso remeti a Debret e infiro que nem o cachorro nem onde ela more sejam delas.
O fato é que essa postura a defendia de mim, tão habituado aos “bom-dia”s e “boa-tarde”s que costumo lançar aos vizinhos que encontro pela rua. Sempre que a via, tinha de passar batido, o que reforçava sua imagem debretiana aos meus olhos. Irônico, dado o fato de que, fenotipicamente (no sentido figurado, antes que os geneticistas me crucifiquem), de sinhôzinho eu não tenho nada.
Senti-me desafiado, embora eu não soubesse como reagir.
Até que, certo dia, passava pela rua e a tal senhora estava a conversar com outra. “Boa-tarde”, falei, esperando apenas uma resposta.
Quando as duas me responderam.
Mesmo tendo sido a resposta da debretiana senhora um balançar de cabeça áfono, senti-me contente. Vícios do psicólogo que inda mora aqui.
E o canal foi aberto. Das minhas subidas de ladeira às oito e poucas da manhã com os fones de ouvido troando nos tímpanos, a encontrava com o seu Sancho Pança na coleira:
“Bom-dia!”
“Bom dia.”
E anteontem, voltando do trabalho para casa, a encontro na rua, carregando vocês-sabem-quem. Com os supracitados fones de ouvido a castigar os tímpanos, entoo meu “boa-tarde!” e leio nos lábios dela algo fora do padrão.
Tiro os fones do ouvido.
“Oi?”
E ela responde, vigorosa:
“Nunca mais te vi!”
Explico a ela que agora saio mais cedo de casa. Ela sobe com o alvo quadrúpede. Ponho os meus fones de ouvido e continuo a descer a ladeira.
Com um sorriso besta nos lábios.
Por mais simples que seja o contexto, é muito bom se deparar com um Encontro. Desses com “E” maiúsculo.
Carpe Diem. Amo vocês.
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