segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

... E um frágil Ninho.


Mesmo sabendo o dano que causaria, atrevi-me a reler velhas cartas. As suas.

E surpreendeu-me o quanto de nós ainda há nelas. Da leveza das raras e geniosas cartas de um criptografado amor. Ao peso das missivas de lamentação pela manutenção de um amor insustentável.

Ainda está tudo lá. E remanesce.

O que isso quer me fazer inferir? Que houve prazer? Que houve dor? Que não morreu?

O filme era maravilhoso, mas mas atipicamente o largo pela metade. Não estou concentrado o suficiente para passar duas horas fazendo a mesma coisa. Passar duas horas em frente à mesma trama.

O silêncio e a bagunça do quarto não me ajudavam. Lembrava da sua voz. Engraçado que, aos primeiros dias, eu voltava para casa e não conseguia lembrar da tua voz. E agora, ela insiste em me falar o que disseste. E o que não disseste. E o que eu queria que você quisesse dizer. E o que acredito que estava na iminência de ser dito.

Volto o filme – Dessa vez, o meu. Ouço novamente a música que cantaste despretensiosamente ao meu lado, e que tanto me encantou e me revelou tanto de ti.

E lembro tanto da gente. Adoro brincar do doloroso jogo de pensar o que aconteceria se eu dissesse “isso” em vez de “aquilo”. Ou se eu não dissesse “aquilo”. Brinco até doer e paro.

Volto ao filme – Dessa vez, o que eu estava a ver antes. E desisto dele, pelo menos para as últimas horas. E percebo que a coisa em que quero passar duas horas é a minha angústia. A trama em que pretendo passar pelo menos duas horas me debruçando é a minha.

Releio algo que escreveste e imagino ser para mim, ou pelo menos, sobre mim. E cada releitura revela algo novo que imagino ser desses jaezes. O banquinho pareceu-me óbvio. E as outras milhares de coisas que tenho registradas com a minha, a sua ou nenhuma caligrafia, que me contribuem para alimentar esse sentimento.

(Por que nenhum sentimento me ajuda nesses momentos?)

Questiono-me sobre defasagens. Se minha leitura ou tua escrita foram deslocadas de contexto...

E a ficha cai.

E concluo.

"Pouco importa."

Nada do que faço ou penso ou doo ou angustio fará sentido.

Se saber se eu existo parece não lhe competir mais.


Carpe Diem. Amo vocês.

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