terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Matter of fact, it’s all dark.


Admito que só fui ouvir Pink Floyd depois de velho, e por influência de colegas da Universidade. Na verdade, com relação a todo o rock clássico (exceto, talvez, o Queen), tive de ser autodidata. Meus pais se submeteram às influências pop do fim dos anos 60/ início dos anos 70, mas aos 12 anos eu já havia percebido como os Beatles me tocavam.

O resultado desse fenômeno foi: tive que correr atrás do que gostava de ouvir. Buscar o cerne da minha identidade musical.

E como eu sou neófito... Mesmo hoje, anos depois do meu fascínio pelo rock ter se revelado, recolho-me à minha insignificância e admito que alguns nomes do cânone são apenas isso: nomes.

Alice Cooper, Black Sabbath, Ramones... de forma alguma posso dissertar de forma aprofundada sobre suas obras, apenas p’ra ser ilustrativo. E, p’ra ser sincero, existem coisas que eu não ouço por não ter paciência, mesmo que eu respeite. Não me vejo, por exemplo, pondo um disco do Meat Loaf, Janis Joplin ou Plastic Ono Band por conta própria. (Quer dizer: nem sei se respeito mesmo a Plastic Ono Band...)

Mas eu estava falando sobre o Pink Floyd.


O rock inglês dos anos 60/70 sempre me atraiu mais que o estadunidense. Kinks, Animals, Rolling Stones (Não vou nem começar a falar sobre os Beatles. Eles merecem um post específico)... Mesmo o punk inglês é-me mais atrativo. Considero o Clash muito mais versátil que os Ramones, por exemplo. Enfim.

Mas não vou dizer que gosto de TUDO o que essas bandas fizeram. Nem mesmo dos Beatles eu gosto 100% (Oooooh! Blasfêmia!). Eu realmente me sinto impaciente com relação à musica. É muito difícil eu ouvir uma música ou disco novamente se eles não me arrebataram à primeira vez. Triste, porém, verdadeiro. A única justificativa plausível que tenho p’ra isso é que existem músicas demais no mundo p’ra eu ficar perdendo tempo tendo D.R. com canções que não me apaixonaram.

Felizmente, não foi isso que aconteceu com o Dark Side Of The Moon.


O que eu conhecia desse álbum eram canções. “Breathe”, “Money”... as malhadinhas, mesmo. Como supracitei, só depois de velho foi que tive a experiência de ouvir o álbum na íntegra. E que agradável surpresa.

Uma das características que tornaram famoso o Pink Floyd é a loucura. A psicodelia. “As viage”. E assumo que certas canções deles são realmente muita informação p’ra mim. Não compro algumas. Outro lance característico deles é a duração das músicas – Algumas são IMENSAS. Muita informação p’ra mim, de novo. Nesse aspecto, considero o Dark Side seu álbum definitivo por trazer o equilíbrio entre esses elementos. Mesmo não faltando loucura (inclusive canções que dissertam sobre a própria, como “Brain Damage”) e músicas grandes (“Us And Them”, com seus 7’50”), eles não destoam da canção. Fazem parte dela. E seriam impertinentes se fossem do contrário.

Outro fator que conta para a grandiosidade do álbum é que, mais do que músicas, ele foi um processo criativo completo. Um poderoso brainstorm. Cada pequeno elemento parece ter sido idealizado “na pedra”, como diria João Cabral de Melo Neto. Não lembro de nenhum outra obra do Pink Floyd (exceto, talvez, o “Live at Pompeii”) em que eu tenha sentido tanto workaholism em Wright, Waters, Mason e Gilmour. Corrijam-me se eu estiver errado.

E não apenas para as músicas. Sendo idealizado como uma ode às diversas dimensões da vida contemporânea e seus absurdos, (conceito enriquecido pelo posterior “The Wall”), mesmo as inserções “não-musicais” do álbum fazem sentido. O bater do coração. O relógio. A máquina registradora. A risada insana. É um álbum tão redondinho que, mesmo nas apresentações solo que Roger Waters ou David Gilmour fazem, eles não conseguem executar as músicas soltas ou numa ordem distinta da idealizada (Às vezes, o álbum é reproduzido na íntegra). Mesmo os depoimentos soltos durante as músicas são fenomenais.

E a esses depoimentos, vale redigir um aparte. A banda confeccionou vinte cartões, cada um deles com uma pergunta. E enquanto gravavam o disco em Abbey Road, chamavam pessoas que também estavam no estúdio para responder às perguntas nos cartões, gravando todas as entrevistas.

O fenomenal desses cartões é o arco em que as perguntas prendiam os interlocutores, As primeiras perguntas eram levíssimas, como “qual a sua cor favorita?”. Em seguida, as seguiam mais obscuras, como “O que a expresão ‘The Dark Side Of The Moon’ (‘O Lado Escuro da Lua’) significa para você?”, partindo para “Você tem medo de morrer?” e atingindo seu clímax com; “Quando foi a última vez em que você foi violento?” e “Você acha que estava no direito de sê-lo?”. Fenomenal, como disse anteriormente. Puta sacada.

As respostas mais notáveis vieram de quem menos se esperava. Paul e Linda McCartney, que estavam gravando em Abbey Road com The Wings, não tiveram suas entrevistas inclusas por ter sido consideradas demasiadamente evasivas (Quem sabe, resultado de décadas de entrevistas com o pé atrás). Henry McCullough, guitarrista da banda, por sua vez, teve um comentário incluso em duas músicas [“I don’t know, I was really drunk at the time” (“Eu não sei, eu estava muito bêbado na hora”)]. Roger The Hat, roadie, também teve sua inserção [“Live for today, gone tomorrow” (“Viva hoje, parta amanhã”)] e Jerry Driscoll, porteiro do estúdio, com a frase mais bela, quem sabe de todo o álbum, e que o finaliza [“There is no dark side of the Moon, really… matter of fact, it’s all dark” (“Não existe o lado escuro da Lua, realmente... de fato toda ela é escura”)]. Filho da puta.


Enfim. Letras maravilhosas, arranjos fenomenais, mitologia envolvente, temática impactante, produção antológica e execução precisa. Daquelas obras que nasceram para ser clássicos, tão raras hoje em dia. De fato, o álbum merece toda a pompa que recebe. É um dos álbuns mais influentes da história do rock e do Pink Floyd. Com seus 36 anos de idade, parece ficar cada dia mais atual. Para quem, assim como eu, sofre de certa preguiça/neofobia musical. E olhe que nem sou tão fã da banda assim.


E ainda sonho em fazer o lance lá com o disco e “O Mágico de Oz”. Essa lenda vocês conhecem, não?


Carpe Diem. Amo vocês.

Um comentário:

  1. você esqueceu de citar que gosta de cavaleiros do forró e calypso;
    Já fiz o lance com o filme mágico de oz, é assustador. trilha sonora do filme!

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