segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Evangeline.

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Now playing on iTunes: Paul McCartney - Uncle Albert-Admiral Halsey
via FoxyTunes



Plano aberto. Quarto da casa dele.

A luz da televisão projetando no casal as únicas cores de toda a casa. O amigo com quem dividia o apartamento viajaria por todo o fim de semana. Não que as coisas mudassem muito com isso, mas pelo menos dava p'ra namorar com a porta aberta.

O casal assistia a um filme. Nenhum lançamento - apenas um filme que eles deixaram passar batido nesses anos de namoro, viram em alguma banquinha de DVDs piratas e aperceberam do fato. Os dois, enrolados no edredom, viam uma cena protagonizada por um galã hollywoodiano.

Plano fechado no casal. Subitamente, ela se vira para o namorado e pergunta:

- Posso fazer uma pergunta besta?

Com os olhos ainda fixos à tela, ele responde:

- Pode, sim.

- Mas se não quiser responder, não responde.

- Un-hun.

- Se você pudesse escolher uma atriz...

- Ih, lá vem...

- Não, pô! Sem besteira!

- Sei...

- Sério! Se você pudesse escolher uma atriz p'ra passar uma noite, qualquer uma...

- Meu Deus...

- Deixa de ser chato! Entra na brincadeira!

- 'Tá bom, 'tá bom! Eu "entro na brincadeira". Mas você vai ter que responder uma coisa.

- O que é?

- E se você pudesse escolher um ator? Quem seria?

Ela fica sem-graça e empalidece um pouco. Nada perceptível à tão pouca luz ambiente. E aponta para a tela.

- Ele? Sério mesmo?

- É... É, sim! Seria com ele.

Ele olha om um certo desdém. Menea com os olhos entreabertos.

- Ah, mas é só faz-de-conta, seu bobo!

- Eu não estou dizendo nada!

- Não com a boca!

- Deixa p'ra lá, sua boba!

Eles gargalham, fazem cócegas um no outro. O edredom cai no chão e ele o recolhe. A noite estava fria. Continuam a ver o filme.

- Ei! - Ela grita, olhando para ele de forma inquisitiva, com um olho fechado e um bico.

- Oi.

- Você não me falou quem era a sua!

- Ah, foi!

- Então? Fala, logo!

Ele olha para cima, pensativo:

- Ehh... qual é o nome dela, mesmo? A daquele seriado que você vê...

- A protagonista?

- Não, não... Aquela que faz o papel da amiga dela.

- Ah, sei, sim!

Ele demora a dizer, mas responde:

- É... acho que seria ela!

- Sério?

- Sério.

- Hmmm... então, 'tá bom.

O silêncio reina no recinto. Os olhos dele voltam a se fixar à tela. Momento tenso do filme.

- Posso dizer uma coisa? - Ela questiona.

- Un-hun.

- Eu não gostei, não!

- Ahn? Não gostou do quê?

- Você jura por Deus que não vai reclamar?

- Reclamar do quê?

- E nem vai rir!

- Rir do quê? - Ele já começaria a ficar impaciente.

- É porque... é...

- Fala!

- Ela nem é daquelas loiras falsas...

- Não, não é...

- Nem daquelas gostosonas siliconadas...

- Também, não...

- Ela é até sardentinha!

- É, sim...

- Tipo... é daquelas mulheres que outras mulheres também achariam bonitas! Proporcional, sem peitão, sem bundão... Daquela beleza que se pode encontrar no meio da rua!

- Mas ela não está no meio da rua. Está em Hollywood!

- Eu sei, mas... Mas... Ah!

- O que foi?

- Você ficaria com raiva se eu dissesse que 'tô com ciúmes?

- Putaqueopariu...

E esse foi mais um caso clássico de mulheres que se frustram diante da imprevisibilidade masculina.


Carpe Noctem. Amo vocês.

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