quarta-feira, 3 de junho de 2009

Pigas.

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Now playing on iTunes: The Cardigans - Junk of the Hearts
via FoxyTunes


Engraçado perceber que, se há uma classe unida no mundo, é a dos tabagistas.

Eles parecem unir-se contra o mundo que os considera errados. Como hoje fazem os eco-chatos e os homoafetivos, eles nunca deixam um igual na mão. Não é preciso preocupar-se com a falta de cigarro ou fogo. Sempre há alguém solícito.

Parece brincadeira, mas é verdade. Se a sua vontade é manter-se no hábito/vício, nunca lhe deixarão na mão. E nadando contra a maré, rebatendo a moda em prol da manutenção do seu glamouroso e nobilíssimo comportamento, os fumantes seguem.

Lembro-me que, cinco anos atrás, estava fumando um Sampoerna num shopping de Natal (à época em que isso era permitido). Uma simpática senhora pedia emprestado o cinzeiro que estava em minha mesa (vale também ressaltar que o cigarro que eu fumava foi aceso com um isqueiro que havia pedido emprestado de um senhor que sentava à mesa ao lado da minha), chamando-me de "companheiro de cigarro" ou coisa que o valha.

Parece óbvio constatar que, se não estivéssemos inseridos naquele contexto, ela não me consideraria "companheiro" de porra nenhuma! O que, socialmente falando, uniria uma distinta parte das altas rodas a um garoto de vinte anos usando brincos e jeans rasgados? Mas, nesse momento, éramos amigos de infância. Partidários. Ativistas. Correligionários. Nostálgicos.

Cordialmente, entreguei o cinzeiro. "Já fumei o suficiente". Tenho certeza que ela não entendeu a profundidade do que eu falara, já que eu passaria anos sem fumar a partir daquele dia. E nem queria que ela entendesse: como revelar a uma velha amiga que eu não estaria apenas a traindo, e sim a todos nós, fumantes? Como dizer a ela que eu não seria suficientemente forte para sustentar o vício?

Não, nunca faria isso. Seria um choque à toda a comunidade se eu revelasse que era capaz de parar e pronto. Iriam acusar falta de envolvimento de minha parte.

E esse tempo todo, fiquei com medo que recorressem a mim na falta de um isqueiro.


Carpe Noctem. Amo vocês.


P.S: Como peço às vezes: não encarem esse texto como panfletário, apologia ou res que o valha. É um relato. Ponto. Não defendo lado nenhum.

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