sexta-feira, 12 de junho de 2009

Not that Valentine.

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Now playing on iTunes: Red Hot Chilli Peppers - His Velvet Glove
via FoxyTunes



Em 1949 o publicitário João Dória trouxe uma ideia para avivar a importância de uma data que se perdia na priorização do calendário brasileiro: o dia 14 de fevereiro, Dia de São Valentim, o Dia Internacional do Amor. Como essa data muitas vezes coincidia com o Carnaval, todos os ritos em nome desse belo sentimento perdiam sua conspicuidade. Comercial, inclusive.

Com vistas de reparar tal equívoco, essa data foi transferida para o dia 12 de junho, um período de vendas morno e à véspera do Dia de Santo Antônio, patrono casamenteiro. Ao passar do tempo, a data saiu do Estado de São Paulo e ganhou todo o Brasil, sendo chamado de Dia dos Namorados.

Podemos dizer a data vingou. Desde então, todos os casais apaixonados participam de uma maratona que se inicia nos shoppings, com a escolha de um regalo de valor proporcional ao apreço aferido ao relacionamento, passando pelos restaurantes lotados e a tradicional fila de carros em frente às entradas de todos os motéis do país.

E o mais interessante é que a coisa ganhou uma proporção que acho difícil ter sido pensada por Dória. Porque é inegável que os Enamorados de 12 de junho têm que dividir essa data com outras facções que surgiram para referendar suas próprias opiniões sobre o amor.

Uma facção que surgiu foi a dos Solteiros Amotinados. Criaturas a refutar os coraçõezinhos pipocantes que enchem a cidade e tentam manter uma vantagem através dos números, arrolando outros solteiros para sabotar os climas de romance. De preferência, indo aos mesmos restaurantes românticos em que os casais apaixonados estão, à guisa de afronta.

A facção mais óbvia talvez seja a dos Solteiros Deprimidos. Pessoas que, assim que possível, se trancarão em seus quartos com alguma substância alucinógena ou hiperglicêmica para lamentar a data, ver filmes românticos, ouvir músicas tristes ou coisa que o valha – Tudo isso para resgatar aquela tristeza por estar sozinho que estava escondida o ano inteiro. Alguns chegam ao extremo de comprar um presente ou mandar flores para si mesmos. Para elevar a auto-estima, ainda exigem que sejam entregues na escola, faculdade ou local de trabalho.

Alguns não se rendem à situação que se encontram e tentam se imbuir do zeitgeist para reverter o quadro. São os Solteiros Insatisfeitos, que irão à caça de outros solteiros, sonhando em contar para os netos que ele conheceu a avó deles em pleno 12 de junho.

Também figura em nossa lista os Solteiros Convictos. Gente que está indisponível para relacionamentos, mesmo não estando em um. Estão nas vacas gordas, repleto de paixões puntuais e que não quer perder isso por nada. Alguns até ficam pianinho dentro de casa esse dia p’ra que uma dessas paixões não ponha a carroça à frente dos bois e confunda a relação.

Até mesmo os casais unidos à época também criaram suas dissidências. Temos, por exemplo, a facção dos Namorados Insurgentes. Críticos e cientes da comercialização da data, recusam-se a alimentar uma indústria capitalista que visa apenas o lucro em detrimento da valorização do ser humano. Tentam tratar o dia 12 como uma data qualquer e vão ver só um cineminha, enquanto veem todos os outros casais do planeta sorridentes pelas vitrines, e voltam para casa ver novela.

Há também os Namorados Temporários, casais que forjam um laço que dura apenas 24 horas (às vezes bem menos do que isso) para afirmarem ao mundo que estão muito bem, obrigado, trocar alguns beijinhos em público (e, quem sabe, até algo mais em particular) e voltar às vidas de solteiros ao dia 13.

Patrício Jr., do Plog, também lembrou daqueles que são criticados, mas defendem à sua maneira uma democratização do amor. São os Namorados Múltiplos. Aqueles que têm que correr de uma casa a outra, de um restaurante a outro, de um motel a outro, inúmeras vezes numa mesma noite, para satisfazer todas as cônjuges.

E não poderíamos deixar de citar o limbo em que se encontra o clã dos Ex-namorados Recentes, casais que, por pouco, também comemorariam essa data (alguns precavidos já teriam, inclusive, comprado o presente e reservado mesas/quartos para celebrar a ocasião) e que enfrentam uma miríade de sentimentos, todos eles conflitantes com a data em questão. Ou estão de luto, ou procuram se conformar com algo que não volta mais.

A questão é: seja lembrando ou esquecendo, abraçando ou negando, sabotando ou valorizando... exatos 60 anos depois, ainda não há como ficar imune à data. Até a turma do "foda-se" tem que se haver com o inferno de shoppings, restaurantes e motéis lotados.

Onde quer que esteja, Dória deve estar sorrindo feito um abestalhado. Que outro publicitário pode dizer que sua campanha gerou tanto buzz?


Um feliz dia 12 para todas as facções.


Carpe Noctem. AMO VOCÊS.


P.S: se alguém fizer parte de uma facção que não citei, deixe um recado nos comentários e eu atualizo, dando os devidos créditos.

P.P.S: Agradeço novamente à minha amiga Kallyne Ninotcha pela conversa que gerou esse post. E fique no Limbo só pelo tempo que for necessário, viu?

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