Há cinco anos, ganhei de presente de uma linda menininha ruiva o excerto de um texto. Ao escarafunchar meus transcritos, deparei-me com ele e fiquei maravilhado com uma miríade de fenômenos distintos - incluindo a beleza das palavras contidas.
Tentando desvendar a autora desse excerto deparo-me - Surpreso - com o texto integral. Igualmente belo.
Ofereço a todos essa preciosidade prosaico-poética. Qual foi o trecho que foi-me presenteado? Creio que mantém a beleza do presente manter isso em segredo.
Beijos, Linda Menininha Ruiva.
P.S: Se você souber quem é a autora (ou se a autoria desse texto for sua), por favor, comente aqui no blog e eu darei os devidos créditos.
Carpe Noctem. Amo vocês.
E tem horas que todas as boas intenções do mundo não são suficientes, porque a gente nunca vai saber como agir certo. Não adianta o coração estar no lugar certo, porque sempre as palavras saem erradas, e a gente tropeça no ar e dá de cara com uma parede de negação. E porra, dói. Minha cabeça deveria estar calejada, já, de tanto dar de cara com essa parede. Mas parece que não dá. Só prova que ser cabeça-dura não dói menos. A teimosia ainda não se externalizou o suficiente para me proteger de dores metafóricas, parece. Mas tudo bem.
Às vezes fico rezando para que chegue o dia que os calos cheguem. O dia para que a insensibilidade me impeça de continuar tentando salvar o mundo. Esse tipo de idealismo cego não me faz bem. O romanticismo infindável menos ainda.
Me recuso a acreditar em certas coisas. Me recuso a sentar e assistir às poucas coisas que me dão esperança saíndo do meu alcance e se tornando exatamente aquilo contra qual a gente tanto lutou e esperneou num passado não tão distante.
Já teve aquela sensação de andar pela rua, sem preocupações, olhando as estrelas, esperando que a qualquer segundo o céu fosse desabar numa explosão de estrelas, e os prédios fossem cair à nossa volta, porque a única coisa realmente importante nesse mundo inteiro fosse a gente estar de mãos dadas no meio disso tudo? Eu sei que você já teve, eu estava lá. Se os prédios de fato não caíram, foi mero acaso, ou talvez a engenharia moderna. Mas nunca vou saber se caíram ou não. Tinha coisas muito mais importantes na minha cabeça. Do tipo como iríamos envelhecer numa casa cheia de livros, com um sofá pra ficarmos um em cada ponta lendo, com as pernas cruzadas no meio. E sobre ter um gato, que iria ficar pendurado no seu ombro, ou deitado na minha barriga. E como nunca precisamos falar, mas talvez se tivessemos falado, ainda estariamos vivendo aquela felicidade que desconhecia o amanhã. E sobre como talvez eu teria descoberto antes que era só eu estava sentindo aquilo tudo. Como talvez algum dia eu vá parar de sentir isso toda vez que me apaixono, e como só de pensar que talvez vá chegar o dia em que eu não vou mais me apaixonar assim, me dá um vazio horrível.
Pra que viver num mundo onde os prédios só significam aglomerados de pessoas infelizes vivendo sob um mesmo teto sem cruzar olhares no elevador, ou muito menos palavras de consolo em noites chuvosas. Prédios, ruas, carros, barulhos, são nada mais do que um pano de fundo cinza, jogado ali para destacar como as nossas pequenas explosões de cores diárias são realmente coloridas. É saber que nossa pequena revolta é essa. Nós, os românticos, não temos mais lugar no mundo. Pouco a pouco, a gente morre, em meio à um mar de dívidas, impostos e ônibus cheios. Mas enquanto isso não acontece comigo, eu vou lá, passear pela rua. E se você vê uma garota dançando no farol e cantandinho junto com a música, é muito capaz que seja eu. E se eu te desejar um bom dia, não estranhe. É de coração.
Eu queria que as pessoas entendessem tudo, mas às vezes é difícil acreditar que elas consigam. Não que isso já tenha, nem vá, me impedir de ao menos tentar. Vocês também deveriam. Tentar, digo. Pelo bem do pouco que resta da esperança.
Em tempo: o texto fora extraído do blog Meus Delírios, da catarinense Júlia Schramm.
Às vezes fico rezando para que chegue o dia que os calos cheguem. O dia para que a insensibilidade me impeça de continuar tentando salvar o mundo. Esse tipo de idealismo cego não me faz bem. O romanticismo infindável menos ainda.
Me recuso a acreditar em certas coisas. Me recuso a sentar e assistir às poucas coisas que me dão esperança saíndo do meu alcance e se tornando exatamente aquilo contra qual a gente tanto lutou e esperneou num passado não tão distante.
Já teve aquela sensação de andar pela rua, sem preocupações, olhando as estrelas, esperando que a qualquer segundo o céu fosse desabar numa explosão de estrelas, e os prédios fossem cair à nossa volta, porque a única coisa realmente importante nesse mundo inteiro fosse a gente estar de mãos dadas no meio disso tudo? Eu sei que você já teve, eu estava lá. Se os prédios de fato não caíram, foi mero acaso, ou talvez a engenharia moderna. Mas nunca vou saber se caíram ou não. Tinha coisas muito mais importantes na minha cabeça. Do tipo como iríamos envelhecer numa casa cheia de livros, com um sofá pra ficarmos um em cada ponta lendo, com as pernas cruzadas no meio. E sobre ter um gato, que iria ficar pendurado no seu ombro, ou deitado na minha barriga. E como nunca precisamos falar, mas talvez se tivessemos falado, ainda estariamos vivendo aquela felicidade que desconhecia o amanhã. E sobre como talvez eu teria descoberto antes que era só eu estava sentindo aquilo tudo. Como talvez algum dia eu vá parar de sentir isso toda vez que me apaixono, e como só de pensar que talvez vá chegar o dia em que eu não vou mais me apaixonar assim, me dá um vazio horrível.
Pra que viver num mundo onde os prédios só significam aglomerados de pessoas infelizes vivendo sob um mesmo teto sem cruzar olhares no elevador, ou muito menos palavras de consolo em noites chuvosas. Prédios, ruas, carros, barulhos, são nada mais do que um pano de fundo cinza, jogado ali para destacar como as nossas pequenas explosões de cores diárias são realmente coloridas. É saber que nossa pequena revolta é essa. Nós, os românticos, não temos mais lugar no mundo. Pouco a pouco, a gente morre, em meio à um mar de dívidas, impostos e ônibus cheios. Mas enquanto isso não acontece comigo, eu vou lá, passear pela rua. E se você vê uma garota dançando no farol e cantandinho junto com a música, é muito capaz que seja eu. E se eu te desejar um bom dia, não estranhe. É de coração.
Eu queria que as pessoas entendessem tudo, mas às vezes é difícil acreditar que elas consigam. Não que isso já tenha, nem vá, me impedir de ao menos tentar. Vocês também deveriam. Tentar, digo. Pelo bem do pouco que resta da esperança.
Em tempo: o texto fora extraído do blog Meus Delírios, da catarinense Júlia Schramm.
Hey Charlie Brown, que feliz resgate.
ResponderExcluirQuando eu me deparei com esse texto pela primeira vez, ele era um dos otimos que se encontrava num zine que infelizmente acabou, o Zine Vanilli, escrito só por meninas.
Bom saber que as meninas ainda escrevem por ai coisas bonitas e que ainda é possivel senti-las.
Beijo.