terça-feira, 26 de julho de 2011

Vinho do Porto. Ela sem cais.


Noto a recente mancha de vinho do Porto que criei no tapete. Nunca fui de encher a taça até a borda. E noto que minha boca tem tamanha aridez que a bebida seca e quente, na verdade, me refresca. Que meus ânimos estão ácidos a ponto de sentir um sabor doce na dionisíaca dádiva.

Creio que seria bem-sucedida se realmente houvesse um concurso para eleger a mulher mais estúpida do cosmos. E percebo que só penso dessa maneira hiperbólica quando embriagada.

Olho a foto dele no monitor. Agora tem dois filhos. Dois motivos que me dou para fazer com que ele nem se lembre mais que existo. Acendo um cigarro. Mudo momentaneamente de assunto. Marejo. E finjo não sentir a tremedeira nas pernas e o frio na barriga.

Engraçado que eu acho que tudo seria diferente se, oito anos atrás, eu tivesse ido àquele jantar de reencontro do pessoal do escritório. Se eu acreditasse de verdade nas entrelinhas que via nas mensagens enviadas. Se cresse que ele não queria dizer “não” quando me disse “não” em nosso último dia. Se eu ligasse mesmo para ele nas madrugadas em que a vontade surgia. Se eu não tocasse nos assuntos que toquei. E sinto-me ridícula após isso, porque em todos os momentos fui autêntica. Penso que se eu tivesse sido um pouco menos eu, poderia ainda tê-lo.

(E, por isso, sinto-me ridícula novamente.)

O que se acerta após esse malsão sentimento? Nega-me o encontro, ao fazer-me querer negá-lo. Envergonha-me orgulhar querer a fuga. Abraçar o ataque e inquietar ante o conforto.

Resenho. Resumo. Ficho. Explano e justifico. Escolho o lado e torço manter a posição à hora da verdade. Hora essa que nunca surgirá porque eu não vou deixar.

Nem mesmo para mim.


Carpe Noctem.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

domingo, 13 de março de 2011

Esperai.

Donde desperto-me.

Donde dói tanto sossegar.

O silêncio, único companheiro familiar, escapa-me.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Minuto roubado.

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Now playing: Dave Grohl - Final Miracle
via FoxyTunes


Aproveitar o tempo
Dividir o pão
Fazer com que tudo tenha a mesma graça.

É descobrir o novo
Alumiação
Fingir que não houve o que fora mal-dito.

Reflexo na chuva.
Bocejo.
Sinto frio.

E releio o que há tanto estava escrito em mim.



Carpe Noctem.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Under-Understand.

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Now playing: Husker Du - Never Talking To You Again [Live in Hamburg]
via FoxyTunes


Subentender é menos que entender.

Espanta vivermos a ilusão de sê-lo suficiente.


Carpe Noctem.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Três, seis, cinco.

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Now playing: Foo fighters - Wheels
via FoxyTunes


Aquieta-me o peito o anseio ímpar. Revela-me o contraditório novo do não-novo ter. Do não-novo tê-la.

E, nisso, flutuo. E ao sabor de vento, maré e lua, o leme por vezes esquiva ao controle. E por nunca a jornada ter sido tão longeva, desconhecia os destinos possíveis. A vastidão de tal pélago. As tempestades e calmarias dum não-novo ter que nunca havia dado a volta ao planeta. Nunca presenciara a plenitude de todas as luas, tampouco o frescor e intempéries de todas as estações.

Prenhe de honestidade — ainda há frialdade à frágua. Ainda haverá expiação ao tirocínio. Mas ainda há, e muita, a convicção da posição tomada. Dos sins e nãos proferidos.

E percebo, sorrindo, desse não-novo tê-la a tendência a sê-lo ainda mais não-novo. E, disso, a obtenção de força e acalento tão caros à conquista dessa prosaica e quotidiana cruzada, chamada felicidade.


Carpe Noctem. Amo você.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Antecipinércia.

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Now playing: Regina Spektor - Human of the Year
via FoxyTunes


Fico inquieto ante a chuva.
Satisfaço minhas próprias interdições.
Antes que outro me frustre,
sigo em frente e arrependo a mim.

De quem é essa voz que ouço
a criar um discurso meu?
Tenho uma musa própria a inibir-me,
contemporânea ao meu saudosismo.

Olho o relógio.
Apago e cigarro
antes que a precipitação o molhe.

E me orgulho
ao conseguir dar nó
em minha própria camisa-de-força.


Carpe Noctem.