terça-feira, 19 de agosto de 2008

Uma ficção que, de mentira, não tem nada.


Era um dia qualquer. Eu estava sentado, a sorver mais uma tragada da então vida quotidiana. Batendo papo com a garota que estava sentada à minha frente sobre algo extraordinariamente prosaico. E ríamos muito.

Foi quando ela apareceu. Caminhou em seu silêncio habitual e sentou-se ao meu lado, como habitual. Cumprimentei-a de forma carinhosa, também como habitual. Da forma mais carinhosa como ela permitiria que o fosse.

(Como habitual.)

Enquanto ela se acomodava, continuei a conversa com a outra garota. Como o prosaísmo do assunto exigiria, foi um conversa curta. E ela saiu atrás de coisas menos prosaicas.

Quando, enfim, voltei-me, vi que ela havia sacado uma caneta de sua bolsa. E, sem dizer nada, escreveu, em mim:

MEU.”

Isso foi surpreendente de várias formas. A primeira, pela assunção do termo o peso de um vocábulo tão curto. A segunda, porque ela usou um tamanho de letra nada garrafal. Não era para os outros lerem. Era, pois, direcionada para mim. A terceira, pela intensidade da entrega – Mesmo sendo ilegível, não era costumeiro a ela dar uma bandeira dessas.

E a quarta, última e mais ingente... Não era necessária marca alguma.

À revelia do que ela fazia e fez com essa informação... que eu era dela, tanto ela quanto eu quanto o mundo inteiro já sabia.


Carpe Diem. Amo vocês.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

The Lovers That Never Were.


Escrevo a mesma palavra milhares de vezes.

E, assim, ela parece assumir outro significado. Completamente distinto ao que eu estava acostumado.

Ela mostra-se outra. Nova. Bem mais clara do que outrora era.

E recordo-me das sábias palavras do meu Sensei de esgrima:

Repita o mesmo golpe mil vezes. Se após o milésimo golpe, com suas forças totalmente exauridas e seus pulsos repletos de dor, conseguir executar mais um ataque, esse será o verdadeiro.”

Agora percebo o quanto ele estava certo:

Só a milésima-primeira repetição de qualquer cousa é real.

O resto é ensaio.


Carpe Diem. Amo Vocês.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Head On The Ground.


Estava ouvindo a mesma canção vinte e duas vezes seguidas, e contando.

E ainda não descobri o que quero encontrar nela.

Talvez seja o otimismo da letra. Talvez seja uma específica seqüência de acordes. Talvez seja a rouca desafinada do refrão.

Existe algo nela que estou precisando, decerto. O problema é que não sei se a estou encontrando.

Me atrevo a mudar? Devo esquecer dela?

Sem pensar muito, tento ouvir outra.

E consigo. E agora eu a estou ouvindo por mais de dezenove vezes.

Impossível.

É impossível desistir da canção quando ela não desiste de você.


Carpe Diem. Amo vocês.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Ensaios Sobre As Paixões (3)

Ato III: Pathos - Assujeitamento




Declarar minha paixão?

Sinto muito,

Mas o que sinto

Aliena-me à fala.


Meus lábios

Falam melhor

Selados aos teus.


O que nutro por ti?

Sinto muito,

Mas sinto melhor

Sem traduzi-lo.


Minha língua

Encontra tua pele.

E é aí que digo tudo.


Quão vazias

São as provas de amor

Em forma de discurso.


Quão explanatório

É o silêncio

Conseqüente de um beijo.


Em poucas palavras

e última análise

o que tenho

a dizer

a ti

é:






























Carpe Diem. Amo vocês.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Se Nada Faz Sentido, Há Muito O Que Fazer.

Há cinco anos, ganhei de presente o poema abaixo, de uma grande amiga minha. Fiquei abismado com tamanha beleza, simplicidade e completude.

Invejo essa facilidade para o poema. Meus momentos leminskianos são irritantemente raros.

Agradeço a Aninha por ele. Que minha homenagem sirva de uma frágil tentativa de retribuição.

Nunca me tire de sua garrafinha.




Quem faz um poema

abre uma janela.

Respira,tu, que

estás numa cela abafada,

esse ar que entra

por ela.


Por isso é que

os poemas têm ritmo -

Para que possas,

enfim,

respirar.


Quem faz um poema

salva um afogado.”


Carpe Diem. Amo vocês.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Love You. Passion Us. Hate Me


"Caio algures do fogo

E eu caio algures do fogo.

Uma eu maior para ti.

Contrata-me para ti.


Caio algures da cidade,

Para o restante do mundo imergir.

Para você vir abaixo.

Para o restante da tua queda.

Em tua cabeça.


Caindo.

Com a sua cabeça livre.

Estou caindo.

Em todos os pontos de vista.


Caio algures da cidade,

Para o restante do mundo imergir.

Para você vir abaixo.

Para o restante da tua queda.

Em tua cabeça.


E eu disse que você não me machucaria

Nunca mais.

Com teu coração ao solo

Eu disse que você não me machucaria nunca mais.

E o restante do mundo estava confiante.


Que você não me machucaria nunca mais.

Para o restante do mundo,

Você indubitavelmente me machucaria ainda mais.


Estou caindo

Em direção ao teu chão."


[Melissa Auf Der Maur - Head Unbound]


Carpe Diem. Amo vocês.