pelas palavras ditas,
as insinuadas
e os planos arquitetados.
Não culpe a lua
pelo efeito,
o que foi feito
e omitido
Foram apenas nossas bocas,
seladas
em pacto.
Foram os nossos desejos,
juntos,
em complô.
Carpe Noctem. Amo vocês.
"Ser publicitário é um calvário. Ser publicitário no Rio Grande do Norte, então, é um exercício diário de paciência, devoção e certeza de que não sabe fazer outra coisa. Começo o texto assim para justificar algo: já temos dificuldades demais na profissão. A saber: clientes com pouca verba e nenhuma noção de marketing, veículos viciados na política da boa vizinhança, concorrência desleal e antiética de alguns publicitários entre aspas. Mas a dificuldade da qual quero falar hoje é uma antiga reivindicação da categoria: a formação do SINTAPP - Sindicato dos Trabalhadores em Agência de Publicidade e Propaganda do Estado Rio Grande do Norte.
Há algumas semanas, um grupo de publicitários se reuniu para tornar essa ausência numa presença. Airton Minchoni, Marcílio Mariz e Rodrygo Rennyer juntaram esforços, colocaram algumas idéias no papel, correram a burocracia e conseguiram a publicação do Edital de Convocação para a 1ª assembléia do SINTAPP/RN. Essa assembléia deveria acontecer hoje. E nela, seriam convocadas as primeiras eleições para presidência do sindicato. Acontece que esta assembléia não aconteceu. Isto porque o Sindicato dos Radialistas conseguiu uma liminar proibindo a realização do encontro.
O que o Sindicato dos Radialistas tem a ver com isso? Explico: há anos, os profissionais de agências de publicidade do Estado são representados pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão, Televisão e Publicidade do RN, mais conhecido pela errônea alcunha de Sindicato dos Radialistas. Esse erro gramático - pra não dizer dramático - no apelido da organização é, na prática, um reflexo do que o sindicato representa para os publicitários. Ou seja, um erro.
Apesar da contribuição sindical não falhar (um dia de trabalho por ano de cada publicitário vai religiosamente para a entidade), nenhum publicitário é verdadeiramente engajado neste sindicato. Os motivos são muitos, que vão do desinteresse à falta de espaço no órgão. Mas pode ser resumido numa questão: juntar radialistas, jornalistas e publicitários num mesmo sindicato é como juntar médicos, dentistas e veterinários num mesmo Conselho Regional. Apesar de estarmos em áreas relacionadas, jornalistas, radialistas e publicitários têm necessidades diferentes. Por isso, pedem representações diferentes.
Hoje, as agências de propaganda são filiadas ao Sindicato das Agências de Propaganda do RN – Sindapro. Na prática, os patrões formam esse sindicato e pela falta de representação direta das necessidades dos publicitários, acabam tomando decisões que são simplesmente comunicadas ao Sindicato dos Radialistas. Muitas vezes unilaterais. Quase sempre, sem reações. Obviamente, não se pretende instalar uma guerra de classes no mercado publicitário local. O Sintapp apenas equilibraria as regras do jogo. Uma categoria sem representação coesa e realmente ligada ao dia-a-dia profissional não tem esperanças de ver suas demandas atendidas. O resultado é devastador para a profissão como um todo. A insatisfação gera publicidade ruim, desvios de conduta, êxodo de profissionais para outros mercados, dentre outras conseqüências terríveis.
Em carta aberta, enviada hoje para o CC-NAT (grupo de discussão por e-mail que reúne os publicitários de Natal), Airton Minchoni disse que o Sindicato dos Radialistas “alega que, por já existir um sindicato que represente nossa categoria, não necessitaria ter um segundo, o que violaria o princípio da unidade sindical”. E acrescenta: “Essa alegação soa como uma piada. Primeiro por não sermos representados, apenas estamos vinculados ao atual sindicato. Não conheço alguém que seja publicitário e que tenha filiação real a esse sindicato. Portanto, ele não nos representa”.
Airton ainda apresenta um outro forte argumento para que a liminar soe absurda. Segundo ele, a criação do Sintapp não tem a intenção de extinguir o Sindicato dos Radialistas, pois este continuaria representando os publicitários autônomos. “É apenas uma representação mais específica e focada nos problemas e necessidades reais de nossa área. Estamos saindo do generalista para algo mais específico”.
A confusão agora vai pra Justiça. Apesar da liminar a favor do Sindicato dos Radialistas, Airton afirmou que a iniciativa não vai parar por aqui. Ironicamente, recebi meu salário hoje. No meu contracheque, um desconto que eu não via há meses me chamou atenção. Era a contribuição sindical. Entendo que o Sindicato dos Radialistas não queira perder a fatia do bolo que lhe cabe. Mas como representantes de classe, deveriam seguir a máxima de que ninguém representa quem não quer ser representado. Uma atitude contraproducente dessas só deixou todos com mais vontade ainda de fundar o Sintapp. Mesmo que isso signifique, desde já – e antes da sua fundação –, uma luta sindical."